quarta-feira, novembro 21, 2007

As cores são andróginas, vermelho é vermelha. mas não há conflito de gênero: ele só aparece quando relacionamos as cores com os sujeitos e objetos.

ela estava caminhando
na avenida movimentada
quando transformou-se em
vermelho.
logo ali
no corredor de ônibus.
transformou-se em vermelho.
ela ia tranqüila e atordoada,
e transformou-se em
vermelho.
num segundo ela era
todo o vermelho que
se via na avenida.
no asfalto quente,
em rostos boquiabertos,
em pára-brisas,
em um motor, em rodas.
agora ela era feita ora
de uma pasta vermelha ora
de um líquido vermelho.
ela se espalhou pela cidade,
oxidou-se em postes metálicos,
misturou-se com secreções oculares,
infiltrou-se nas águas do esgoto, quando a água jorrou
no asfalto.
o primeiro que ficou feliz foi
o cachorro que degustou um pouco daquela pasta
vermelha em que ela havia se transformado.
em pouco tempo, ela estava circulando pela cidade
nos bicos das pombas, nas línguas dos cães, nos olhos dos velhos.
ela estava lá caminhando e
transformou-se em vermelho.

sexta-feira, outubro 12, 2007

diariamente uma mente velha transforma seu legado

o velho já não pode mais sair pois dói o pescoço, dói a coluna, dói a pele, doem as costas, doem os órgãos vitais, doem as pernas, doem os músculos, doem os dedos. o velho pensa no dia de ontem e vê a confusão lírica que foi sua passagem. corpos extravasando seus amores e ódios, defenestrando-os para cima de outros corpos. corpos em comunicação. é quase impossível para aquele velho pensar, colocar em forma de palavras, os ritos por ele vivido. mas o pensamento se forma a partir do sentimento que ocupa sua mente insana, carregada de uma imensa soma cosmológica produzida por séculos de civilização. uma mente que se encontrou com seus antepassados mortos e que procurou superá-los. procurou não deixar a centelha se apagar. orientando as ações de seu corpo no sentido de deixar um legado maior que o dos mortos. no sentido de avançar as peças no tabuleiro de forma a surpreender seu adversário. uma mente que movimentava cada peça com o esforço de alcançar a rainha e não o rei, frustrando toda expectativa do adversário. ela não mudou as regras do jogo, mas mudou a forma de interpretar o jogo. ou pelo menos a forma que ensinaram para ela. forçando as mentes que o rodeavam a, pelo menos, encarar outras formas de perceber o jogo, ou melhor a vida. ela sabia que essa metáfora não fazia jus à complexidade da vida. mas ela sabia, também, que a metáfora não precisava ser racional. e para ela, a vida devia mais à metáfora do que o contrário. e os mortos deviam mais à vida. do que a vida aos mortos. mas ela sentia-se em dívida com os legados, pelo menos os que lhe apeteciam, dos mortos. e buscou aperfeiçoá-los. depois de olhar para ontem, a mente do velho percebeu que as dores de seu corpo só se externalizavam porque este corpo agiu. a mente do velho se encheu de hormônios ao perceber que as escolhas feitas para sua atuação, em conjunto com o corpo, geraram as inúmeras dores neste presente. ao perceber-se como criadora de um legado que irá ser superado. as substâncias que invadiram o espaço daquela mente reagiram e conduziram para a face do velho impulsos. surgiu em seu rosto um sorriso. de quem vai sair de casa. na busca de superar seu legado.

domingo, outubro 07, 2007

Trailer# The Bird People in China (1998)


A eterna vontade de voar.
Lindo, simplesmente lindo!

Braindead (dead alive)

Poesia lírica!

sábado, setembro 22, 2007

o fim da noite

oh!
e já não há mais tantas forças.
o estômago dói. o intestino não funciona.
a gengiva sangra. a coluna dolorida e torta.
o joelho moído. os olhos ardendo.
e o cérebro continua sempre dando defeitos. talvez agora mais doentios.

o fim

sexta-feira, setembro 21, 2007

eu acho que eu já tive um amor...

"tive sim, outro grande amor antes do teu, tive sim.
o que ela sonhava era os meus sonhos e assim íamos vivendo em paz.
nosso lar
em nosso lar sempre houve alegria.
e eu vivi tão contente.
como contente ao teu lado estou.
tive sim, mas comparar com o teu amor, seria o fim.
então vou calar.
pois não pretendo, amor, te magoar.
pois não pretendo, amor, te magoar."
o amor está em mim. como não poderia estar? podendo. mas ele inexplicavelmente está em mim. e inexplicavelmente ele é uma construção coletiva. logo ele pode ser o mesmo sentimento que você, do outro lado desta rede de relações, sente. mas ele pode ser algo incompreensível para quem não mais está envolvido em uma rede de relações. ele pode ser vivido por uma pessoa só, por duas, ou por várias. ele pode ser esperado por uns, entendido por outros ou incessantemente buscado por mais outros. ele pode também simplesmente não ser inteligível para muitos. e passar desapercebido. eu amo. não sei explicar como. eu amo e sou capaz de não mais procurar quem eu amo, caso a pessoa esteja precisando de estar só. eu amo e sou capaz de remoer amores passados. eu amo e sou capaz de não mais me dedicar a nada. eu amo e sou capaz de escolher a vida e continuar aporrinhado este mundo ao invés de me matar. há muito tempo eu preferi a tolice de viver. desde então eu perturbo o mundo com as várias maneiras de pensar o próprio mundo. não sou capaz de amar todo mundo deste mundo. mas sou capaz de tratar aquilo que eu odeio com um abraço, com um afeto. justamente para corromper as escolhas "naturais" de nossas sociedades. também posso cuspir em pratos depois que a refeição terminou. sim, nunca disse que não sou estúpido. mas isso é outro caso. ou "caos" aqui é outro. (é caos mesmo) amores podem surgir de um aperto de mão. ou só depois de anos de convivência. mas há amores e amores. há tempos que não participo da construção de amores. eu presenciei realizações amorosas, como a participação política de estudantes na universidade. mas não participei dessa realização. senti um amor grande por algumas pessoas libertárias, mas não criei nenhuma espécie de amor entre nós. logo podemos amar, sem nos relacionar também. eu não vou chegar ao ponto de amar nenhum bush, ou fidel. os amores também têm limites. mas será que eles não são amados por ninguém? eu até gostaria que não. mas eles são seres humanos que construíram suas relações ao longo de suas vidas. e em algum momento deve ter havido amor. fidel em suas lutas e bush... er... e bush... e bush quando sua mãe o pariu. ah... o amor é uma construção, como já disse. logo o que é amor para alguém que vive o dia inteiro sob pressão de ser atacado por um policial durante toda madrugada é diferente do amor para alguém que vive no conforto de seu apartamento amparado por um copo de leite quente que a mamãe preparou. será que nós nos amamos realmente? bom, eu já fugi do intuito inicial, então fico por aqui. em pedaços. talvez esses pedaços possam ser completos.

o medo de perder o medo

outro dia estava eu cortando caminho pelo parque farroupilha. o parque da República. de bancos de fins do século XIX. de sociabilidade da burguesia emergente sulriograndense. com passarelas sobre um pequeno lago, hoje sujo e fétido. com árvores que te fazem esquecer o gosto do ar urbano. o melhor adjetivo para ele hoje seria democrático. mas na verdade ele nasceu republicano. e sua suposta democracia só mata a fome da alma "popular" em dias de domingo e feriados. principalmente nos que têm passe-livre para toda população. sim. passe-livre. quanta democracia. pois bem. estava eu esquecido do trânsito urbano. perdido em meio ao som quase provinciano do parque até que fui surpreendido por um corredor que vinha logo atrás de mim. o senhor estava simplesmente tentando, em seu tempo livre, curar o coração de suas gorduras ingeridas ao longo de sua vida de gaúcho. ou exercitando seu pulmão podre de 20 anos de acondicionamento de nicotina. ou sei lá o que. o que interessa, e isso sim é instigante, é que eu me virei assustado e tenso. talvez pensando que estava sendo abordado por um possível corpo que escolheu a via do liberalismo cotidiano da urbe: saques e motins. sim. era isso. esqueçam o talvez. o homem chegou a pedir desculpas, sem parar sua corrida pela recuperação de sua saúde. ele percebeu claramente minha feição de tensão. refletindo sobre o ocorrido percebi o quanto vivemos sob tensão. todo o tempo. estava eu em um parque, cortando caminho para chegar em minha passagem de porto alegre. e me dou conta do quanto o mundo moderno (muitos diriam com a boca cheia: pós-moderno, seu “out”!) nos deixa tensos. e a tensão vem de todos os lados. desde a televisão até na literatura. sim. até nesta tão gostosa fuga. tensão em kundera, tensão em bukowski. não é a boa tensão. aquela sobre a qual realizamos nossas práticas cotidianas e que nos faz mover. mas a tensão no sentido de fobia. de medo. medo das ruas. medo da sombra que vem logo atrás de você. sentimento criado. porém sentimento sentido. vivido. chegam a criar até mesmo uma instituição para afastar esse medo. por isso não é de se assustar que a polícia declare que já fez por volta de 40 mil detenções e que espera chegar aos 70 batendo o número do ano passado. e deixando como eles disseram todas as famílias tranqüilas. porque as famílias têm medo. e deixar sua liberdade de ir e vir sob a guarda da brigada militar. ainda sou totalmente contra a instituição da polícia. mas me vi inserido por instantes na prática social que este mundo nos ensinou. pelo menos em parte dela, a do medo. e nossa sociedade parece ter medo de perder o medo. porque desaprendemos a viver sem a polícia. porque ela parece algo que está na ordem natural das coisas.
vivendo na utopia de perder o medo e encarar todos como senhores de seus destinos posso até me deparar com uma alma que esteja a ponto de agir segundo a ordem que o medo neoliberal nos ensinou. mas aí é outra história. porque tudo pode acontecer. e eu prefiro romper com o medo urbano.
uma pessoa que vive de sonhos. e sonhos envelhecem... ah, como envelhecem! ou foi só a alma amargurada que envelheceu durante sua vil existência? não sei, talvez no futuro alguém dirá: "um gordo que procurou viver..." triste, mas passível de ser verdadeiro.
enquanto espero não ser como eles, não tenho tanta certeza de que não sou.

sábado, julho 21, 2007

Para se encontrar é preciso se perder

A vida é a eterna luta para manter o intestino em funcionamento....




Agradeço vossas palavras bonitas.... mas não podemos negar minha mediocridade.

Escuto Cartola, ele me diz para disfarçar e chorar...
Disfarçar eu até consigo... chorar é que não... Daí meu pranto irriga é meu coração que fica cada vez mais fraco... Ao invés de molhar o deserto como o Mestre prometeu...
Penso que preciso ir... andar, sorrir já que não choro... assistir o sol, ver as águas do rio grande, ou vir a cuíca cantar... renascer, reviver...
Eu te deixo ir caro Mestre, anda como um vagabundo... Perambule pelas ruas. elas são tuas...
O mundo pode ser um moinho, mas pode ser uma bela de uma privada de rodoviária... ou de um quintal imundo dos anos cinqüenta... Em pouco tempo não seremos mais o que somos... E o moinho pode até triturar nossas ilusões, mas é a privada que irá fuder nossas genitálias e nosso reto. Cuidado com o cinismo.
Tive amor sim! Antes do teu, sim! E vivia contente, como vivo contigo... Mas comparar com o teu amor é o fim... Então calo pois não pretendo, amor, lhe magoar... Mas pensando bem... se não pretendemos magoar porque começamos a falar? Porque gostamos. Amamos. E assim, somos sinceros.
Deixe-me ir? Mal conheço a vida, não sei meu rumo. Mas preciso andar. Não estou resolvido, e minha vida ficará em cada esquina... Mas quero nascer. Quero viver.
Cavei o abismo com meus pés. E sairei dele com minhas mãos.
Espero não quebrar as promessas que eu nunca fiz... Espero estar junto, trabalhando até o dia que tivermos o suficiente. E quando o suficiente for suficiente para mudar... Mudaremos....Espero não quebrar as promessas que fiz a mim mesmo, enquanto criança...
Mas preciso ir... preciso andar...

domingo, julho 01, 2007

fragmentos sobre aqueles que estão reunidos em uma pessoa só

tocando os pés daquele senhor, naquele quarto escuro com um cheiro acre, ele pensava em descrever aquela sensação de angústia e alívio. ele sabia que aquela massagem o conectava àquele homem deitado naquela cama inclinável. e doía quando batia às portas de seus pensamentos uma idéia moribunda, que sempre lhe deu calafrios. a idéia de que poderia ser a última massagem. mas isso não lhe preocupava. eram dores constantes, logo, já não tinham tanto impacto sobre seu corpo. o que importunava sua mente era o fenômeno que ele estava ainda por nomear. era a situação vivida ali, durante aqueles poucos minutos de cumplicidade desproporcional. mas os dois pareciam saber que aquele momento eram deles. aquela massagem parecia como uma tradição secular de demonstração afetiva. à frente daqueles dois corpos unidos pelo vai-e-vem que suas almas faziam, caminhando de um corpo a outro, a televisão estava ligada entretendo superficialmente os dois olhos daquele senhor, que havia se entregado ao ritual. ela fazia o simples papel de iluminar com diferentes cores aquele quarto escuro conformando o cenário daquela união.
...
naquela tarde fria e ensolarada aqueles jovens percorrem alguns quilômetros com o sol tocando suas faces amareladas. eles conjecturam sobre o futuro, sobre seus desesperos, suas utopias coletivas e frustrações mundanas. eles acham engraçado querer construir algo em coletividade ao mesmo tempo em que se sentem, individualmente falando, incapazes e inúteis. riem com tanta intensidade que chegava a sair lágrimas de seus olhos. ao encontrarem o local desejado para compartilhar a tarde e a noite que logo chegaria eles se esticaram numa grama verde e macia. justamente como ela queria, mas não tanto como ele imaginava. as gargalhadas sinceras e cúmplices transformam-se em olhares profundos que dialogam entre si numa sintonia estranha e magna. estranha é também a intensidade dessas tardes que eles costumavam compartilhar. compartilhando mundos e nunca se fechando para eles. reunidos numa pessoa só eles deixavam seus corpos e almas se comunicarem com o resto da comunidade à qual estavam integrados.
...
seguindo seus desejos de unir-se com sua amiga de forma diferente das já tinha vivenciado, ele pega aquelas pernas macias e carnudas, sentindo as gorduras de suas mãos entrando em contato com as gorduras das pernas dela. e aproxima estas ao seu rosto, respirando junto àquelas canelas um ar quente e úmido. os corpos dos dois se contraem de prazer. de um duplo prazer. ele por massagear os pés dela e receber carícias em seus joelhos. ela por fazer essas carícias e receber aquela massagem. a intensidade daquele momento fez com que seus corpos se comunicassem num ritmo estremecedor. suas almas se encontravam de tempo em tempo. e a cada encontro um tremor abala as estruturas de seus corpos.
corpos e almas reunidos numa pessoa só.

sábado, maio 19, 2007

os bárbaros ou a eterna vontade de romper com a catástrofe

- exceder. é o que me falta. tenho medo de me tornar um novo rémy. não que ele seja medíocre. não apoio esta tese. não quero é me arrepender daquilo que deixei de fazer. ficar pensando a vida toda em escrever "memórias póstumas de brás cubas" é o que não quero.! prefiro escrever as 'memórias de um porco doente'. o importante aqui não é, na realidade, escrever memórias mas fazer algo que possa, mais tarde, ser propulsor da vida. ou seja, produzir sem medo, não importando se o trabalho será reconhecido ou não. pois a partir disso poderemos execer. tirar as máscaras e sermos humanos - ensinamento herdado de uma linda professora que lia cioran, iracema. mas somos tão frágeis. e não conseguimos encarar a morte com naturalidade como cioran o fez. mas deveríamos. tenho medo de morrer, e como rémy talvez o medo seja na realidade de perder algo que não mais possuo. só que no meu caso não é o passado que vivi, mas o não vivido, e o porvir. tenho medo de perder o porvir e viver perdido num limbo (agora defendo sua existência) aonde o que foi possível nunca mais será. é como que um mundo novo, ou uma proposta presa em uma bola-de-gude. que viverá enquanto bola, porque quando a bola se desfizer a proposta se romperá, tornando-se uma enorme gama de possibilidades. possibilidades já não mais executáveis na ocasião em que se cristalizou. possibilidades que poderão ser perdidas ou incorporadas por novos 'rémys', que novamente temerão pelas boas oportunidades perdidas.
- "hey! então, preste atenção nas oportunidades que não perdestes ainda!"
- sim senhor, peligro! é sempre bom conversar contigo.!
- "disponha"

sábado, maio 12, 2007

Precisamos nos encontrar

A vida surpreende a cada nova morte de um segundo. É no segundo que o pensamento nos permite conectar realidades, teorias, textos, produções humanas no geral. Na verdade, em um primeiro segundo fazemos uma aproximação entre duas produções aonde procuramos observar as possibilidades de diálogo entre elas. E num outro segundo conseguimos – por estalos, após meses, senão anos, dando murros em ponta de faca – fazer a conexão de determinadas realidades. Creio, realmente, que o trabalho de atentar para o resto do mundo enquanto estamos obstinados a enfrentar um único objeto é crucial para ir além das fronteiras do senso comum. Para avançar em questões novas e que, por vezes, e muitas por sinal, passam desapercebidas.
Muitos de nossos princípios talvez venham de lugares nunca visitados ou imaginados. Talvez o tempo seja uma chave para este baú lacrado quase esquecido no fundo do porão. Ao tratar do passado - e porque não o presente? - devemos ter em mente que nossas experiências sofrem influências das marcas do passado. Pensar que essas experiências como um amalgama de histórias: a vivida, a pesquisada, a estudada, a analisada, a narrada, (como nos ensinou Lucília Delgado, mas também) a ensinada, a almejada, a oficializada, a sentida, a documentada, a (re)lembrada.
Percebi que a conexão entre o eu e o você é maior do que imaginamos. Maior que nossos umbigos!
"Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a procurar, sorrir pra não chorar. Quero assistir ao sol nascer. Ver as águas dos rios correr. Ouvir os pássaros cantar. Eu quero nascer, quero viver... Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar depois que me encontrar. Deixe-me ir..."
!

terça-feira, maio 01, 2007

rascunhos sobre o velho

é... e o velho continua andando pelas sombras e sobras. escondendo suas rugas e desencantos. procurando não deixar escapar de si que ele sente, como que tatuado em sua testa, suas rugas e desencantos. anda confundindo, em sua solidão, saudade e alívio daquilo que já passou, daqueles que passaram por ele. e não crê mais nos sonhos. aliás, já não há mais espaço para as ilusões de outrora. se sente como um vendedor de si mesmo, e crê que oferece mais do que recebe. na verdade ele não consegue mais sentir prazer, a não ser quando tenha algo para oferecer. hoje em dia já não tem mais nada para oferecer, mas ainda não sabe disso. o velho anda pensando sobre suas conquistas, seu trabalho, sua falecida esposa, suas amantes, sua vida. e mais, se questionando se ele chegou a escolher tudo isso, ou simplesmente aceitou as escolhas alheias. e discute com seus botões sobre seu caráter: "somos sinceros ou hipócritas?". ele mal sabe que as situações de sua vida foram sempre assim, conflitos de interesses díspares que aceitavam múltiplas negociações e interpretações. o velho não percebeu em suas reflexões que, durante esses conflitos, sempre preferia se calar.
...

sexta-feira, abril 20, 2007

esquecimentos de miramar

é a dor de não saber ver ou a lamúria de ver demais que tem causado transtornos mentais naquela cabeça. cabeça dura que não sabe mais como se brinca com as palavras. que não conecta mais vida e morte ou que ignora sua vida desejando sempre a morte. o desejo de ouvir os mortos também faz dele uma estúpido prosador. prosador que, no fundo, gosta do que faz e acredita no que faz, apesar de não mais entender suas principais funções, ou antes, apesar de questionar (a necessidades d)as funções do seu trabalho. uma mente em crise constante, melancólica e nostálgica. no sentido melancólico e nostálgico que um velho puteiro, caído aos pedaços - fragmentos da luta que o tempo media - tem. é a dor de não ver o hoje ou de não se perceber enquanto vivo. é a dor de não saber instigar novos 'perceberes' ou o pesar de não ter agido em favor das vidas dos mortos.
miramar miram ar mira mar mirar amar mirar y amar
(os "carlos" sempre inspiram um desejo de mirar e amar!)

domingo, abril 08, 2007

Citação

"É um corpo eternamente incompleto, eternamente criado e criador, um elo na cadeia da evolução da espécie ou, mais exatamente, dois elos observados no ponto onde se unem,onde entram um no outro."(BAKHTIN, Mikhail)
Utilize-se

quinta-feira, março 29, 2007

pessimando liberdades

foi bonito diferente e inspirador. depois de tanto esperar e de tanto 'pessimar' a vida, 'pessimo-a' de forma utópica. utopismo pessimista. talvez. gosto de estar perto de idéias. e há pessoas que são simplesmente idéias. hoje estive cercado dessas idéias. maravilhosas, inovadoras, esperançosas, criadoras. a dramatização das idéias em cenas de teatro modificou-me. os mortos nada esperam de nós. nada. mas muitos de nós esperamos algo deles. respostas. respostas que eles não podem dar. talvez possamos dar a eles algo. não seria bem respostas. algo como a ressuscitação de possibilidades que não se realizaram. algo como uma (re)inflexão desses compossíveis não-realizados na atual realidade. realizando, assim, compossíveis não-realizáveis, que se consumarão em possibilidades de trabalho para novas idéias que ainda nascerão. catástrofe? pessimismo crítico. utópico? espaço e tempo.


as idéias podem arrancar centelhas de esperanças soterradas nas ruínas da tradição do conformismo que beneficiou a (ir)racionalidade da barbárie.


"tá difícil? Descartes."

domingo, março 25, 2007

Reconciliando o intelecto



Havia iniciado este processo devido a forças internas que impeliram meus pensamentos para os criptogramas virtuais. Cessei por semanas o envio desses pensamentos para o sistema internacional de informações, devido a esforços externos que me conduziram a outros problemas. Peço desculpas às minhas pobres letras por ter, de certa forma, brincado com seus sinceros sentimentos. Não fora por mal, sabeis muito bem. Sinto saudades tuas e dos aforismos que criamos juntos - com dores e estimulantes físicos.

Muito tempo se passou desde a última vez, mas gostaria de traçar um diálogo consigo sobre nossos pequenos depositários de expectativas. Todos pensamos possuir um ou mais deste gênero, mas esquecemos que não podemos possuir algo que não existe. Ajude-me aonde puder, mas se o que possuímos é uma expectativa, não possuímos mais do que sonhos baseados em ilusões que nós criamos e demos o status de 'sinais concretos de possibilidades'. Acredito sim, que estes sinais são gerados através de uma relação, então que os enxerga não é o único responsável pela sua existência. Mas acreditamos, eu e você, em algo que vai além disso: quem sustenta a expectativa tem ciência de que o que espera faz parte de um todo; por outro lado que ajuda a sustentar tal expectativa, o pode fazer sem a percepção desse todo que o outro imagina. Por isso ele não existe na totalidade do real. Só existe para o indivíduo, não para o coletivo.

Há, porém, casos excepcionais como a sustentação de uma expectativa mútua. Você depositou muitas esperanças em mim, colocou-me no monte Olimpio e me deu asas maiores do que eu suportava, por minha vez eu a pensei como minha salvação não-humana capaz de conduzir-me aos prazeres de compartilhar os pesos reflexivos da minha mente culpada, culposa. Mas ambos se enganaram, e feio. A relação entre nós deve ser de respeito mútuo, no que diz respeito aos nossos limites. Já apontei os teus e você os meus, e o melhor de tudo é que reconhecemos nossos próprios erros imersos nas linhas compartilhadas. Ainda acreditamos que podemos lutar unidos com nossas únicas armas, as idéias.

Por essas e outras razões que não quero mais conflitos longos e silenciosos como este último. Espero poder trabalhar junto a ti na construção da nossa bizarra argumentação dita pós-contemporânea. E seguindo pensando as gerações futuras ao mesmo tempo em que despertamos para as nossas.


“Ninguém pode aterrorizar uma nação inteira a menos que sejamos todos seus cúmplices.”

"Boa Noite e Boa Sorte"
Edward R. Murrow

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Barreira da insegurança

Mais do que as ações que sentimos segurança em praticar. Ás vezes devemos arriscar e ultrapassar as barreiras que impusemos a nós mesmos. Dizem por aí que quando um não quer, dois não brigam. Penso que superar o senso comum é doudo, mas muito mais produtivo é aprender com ele, deixar que ele decodifique novos conhecimentos. Cheguei em um nível de que nada sei, que nem sei mais se eu sei disso. Nada, deve ser paranóia. Sempre foi. Na verdade o que dói não é ver potencialidades sendo barradas de forma brusca e brutal, mas sim ver que isso não é percebido, ou é simplesmente olvidado, obliterado. Não temos tempo para prolixidades, logo vamos ao que interessa.

As muralhas que construímos para nos proteger do resto do mundo, também pode nos isolar dele. Mas isso não é aquele joguinho de extremos, pelo contrário, uma cousa completa a outra, e digo mais, uma cousa é a outra. (Se essas duas características possuem um comportamento tão semelhante deveríamos tratar delas do mesmo modo?) Os pensamentos me enganam, e somente quando estou botando pra fora é que percebo. Afinal, qual era o intuito inicial deste texto? Já não sei mais responder isto. Esses últimos dias eu ultrapassei muitas barreiras criadas ao longo da minha existência. O que tiro disso? Que importa a minha experiência? Está bem, só disse isso porque ainda não sei o que tirar disso. Pelo menos até agora. Pois agora tudo está ficando um pouco cinza. Mas posso adiantar que é bom romper essas barreiras, o que não significa que elas deixaram de existir, eu simplesmente fui além delas. Já é um começo, que terá um desfecho. “É preciso mudar para permanecer o mesmo”. No meu tempo era, “é preciso mudar para que essa porra não permaneça como está!” Mas muita cousa muda. Antes de mim a primeira frase já tinha produzido efeitos extraordinários neste mundinho.

Outro dia me perguntaram se tenho fé. Sabe, aquilo que é capaz de conduzir uma vida? Aquilo que se sente quando o desespero vem em sua direção. Eu não soube responder. Quando se perde todos os valores, é um tanto quanto complicado responder esse tipo de questão. Na verdade o complicado é edificar, em palavras, os ‘novos’ tipos bizarros de valores que te consomem, se é que podemos chamá-los de valores. Num dia diferente deste, porém não menos igual, me perguntaram para que serve a vida. Como alguém pode ser capaz de me perguntar isso? Sou eu quem faz este tipo de pergunta. Como ficamos? Sem explicação, porque eu apesar da necessidade de uma explicação, eu procuro ainda fechar os olhos para ela, e abri-los somente quando for capaz de me fazer entender. Mas já deixo uma pitada de pimenta neste caso: onde estamos procurando a resposta? E mais, seria esta realmente a pergunta a se fazer? Será que não há outras questões para o mesmo assunto?...

Enfim, romper barreiras pode tanto te conduzir para um estouro da boiada, quanto levá-lo para uma rua no momento de um tiroteio. Dá no mesmo? Ah, sei não hein? Sinta a diferença. Avançar é mais uma forma de lutar contra os maiores temores que possuímos. Agora, seria ta simples reconhecer e enfrentar isso? Esta manhã eu esperei por aquela ligação que nunca aconteceu. Vez ou outra, penso em parar quando o suficiente é suficiente.

“i believe in something, but i don't know what it is. it's either the future or the end. it's every reason that i do or don't get out of bed.”

terça-feira, janeiro 30, 2007

Forte como Peroba...



Estava pensando nas tradições. Certo dia ouvi esta máxima: “forte como uma peroba e livre como um vento”. Corri atrás de sua autoria. Picchia. Mas só para constar, porque não estou dando a mínima para análises profundas agora. O cara veio de uma tradicional família paulistana e, como todo bom literato foi tudo, político, jornalista, banqueiro, advogado e todas essas profissões que envolvem a palavra. Daí botei o Teco para funcionar e ele me informou como a tal da tradição é importante para a formação das vidas das pessoas. Aquela pequena frase pode ter levado milhares de brasileiros (só porque nasceram neste território) a se pensar enquanto tais.


Relativizando minha fala: a frase solta pode fazer sentido em vários aspectos, mas no corpo do seu texto original ela faz alusão ao caboclo, que um dia, por desejo dos pais, será doutor. Agora sim faz um pouco de sentido a frase acima. Isso mesmo, pouco. Se pensarmos a palavra doutor hoje, veremos que ela se assemelha um pouco do sentido de outrora. Talvez naquele momento o doutor poderia significar ter cargo público e tudo mais, bem como o título das famigeradas “Faculdades”. Hoje sabemos que é o título doutoral é dado a quem o defende. Porém ainda vemos por aí pessoas sendo chamadas de doutor sem ao menos ter cursado a graduação, ou somente passou por ela. É o caso dos médicos, advogados, juízes, mas também dos deputados, senadores e outros “ilustrados”.


Sim, a duração é longa. E a república continua dos doutores. Um grande exemplo de tradição firmada pelos “construtores da nação”, que pelo visto está se reformando desde seu início. Processo lento, gradual e seguro. Seguro à nação. Mas cá pra nós, o que é esta nação. Ou melhor, quem é ela? Ah, eu me canso de pensar nesses termos. Já estamos cansados de ouvir minhas reclamações sobre isso. Estamos, porque concordo com todos vocês quanto às minhas reclamações chatas e inoportunas. Mas se eu não puder ser inoportuno, simplesmente REproduzirei tudo, como antes, ou seguindo este tempo. Tempo sombrio, tempo límpido. Ambivalente ou contraditório, escolha suas palavras, suas idéias.


Ao negar tudo estaríamos simplesmente fugindo? Ou colocando os pés em nossas próprias vísceras e infectando nossa organização vital? Mudança de comportamento, ou facilidade diante dos problemas? Negar quer dizer destruir? Não somente. Será que ao destruir não estaremos instruindo, construindo algo? Limitados e castrados pelas idéias, somos ao mesmo tempo capazes de fomentar, através delas, vidas novas. Ás vezes penso: Será que não estamos na tradição da mudança? Mas esta mudança é, para nós, sinônimo de alternância de governos. Ai, se os cientistas políticos tivessem acesso a isto.
Voltemos, então, ao princípio. A contravenção muitas vezes mantém em suas supostas radicais transformações, ranços do tradicional. Vide as feministas do final do XIX e do início do XX no Brasil, ou ainda o governo Stálin. Esses processos carregaram em si muito daquilo que negavam, até mesmo como forma de se auto-afirmar e de suportar suas plataformas, se é que podemos falar disso no primeiro caso. Enfim, as tradições também são importantes nesses processos. Quantas divagações para nada. Inventei a roda! Ah. Às vezes eu gosto de ser óbvio. Ou de perceber que o sou depois que estou preste a terminar um texto.


Ao iniciar este pequeno processo, que chega ao seu limite, a intenção era dizer sobre a importância da tradição nas vidas das pessoas, e acabei, como sempre e isto está virando moda, desvencilhando outros incômodos. Mas retomo o início. É fácil observar como a tradição é importante para nós. Na meio rural, nas cidades, na vida social, no trabalho em qualquer lugar, as crenças, mitos, hierarquias que construímos são feitas em favor da lógica do processo de sociabilidade. Sem elas fica difícil de imaginar algo em funcionamento. Quem diria, eu dizendo isto. Porém com isto não estou dizendo que abandonei os pensamentos líricos e libertários, pelo contrário, estou assumindo que neste pensamento tudo acima enumerado é também de suma importância para a harmonia buscada, mas claro com níveis e funcionamento totalmente distinto do que estamos acostumados a pensar, viver. Veja a tradição oral. Ela é importantíssima para os trabalhos agrários, para os ofícios manuais, para os ofícios intelectuais e até mesmo para a cultura anarquista.


Depois de defender meu cu do ataques de nabas voadoras retorno, novamente. A tradição da peroba, forte e imbatível se sustenta mesmo com refutações dessas idéias por cientistas (doutores) que afirmam sobre sua falsa resistência às intempéries. Sua força é tamanha que ultrapassa gerações e forma seus indivíduos-coletivos. É essa tradição que é capaz de formar, ao mesmo tempo, um novo Abílio Diniz ou Oswald Andrade, ou Prestes, ou Cecília Meirelles, ou Rainha Vitória ou o José, ou a Antônia, ou a prostituta Maria, ou o padeiro Manoel, ou a costureira Josefina, ou você ou eu ou ad infinitum.


Quanta miscelânea. Quanta confusão. Quanto sobrecarga. Quanto lengalenga.

Agora, para fechar, me diga por que não podemos ficar?


Diante do nonsense do mundo por que preciso explicar esta postagem?

O mundo continua dormindo...

Trechos que me incomodam:
"And tomorrow we'll take aim, just like a storm waiting for a calm. I can feel everything coming in my chest, my heart's already pounding, my head's on far-off highways, sixteen years old, on a road that never ends. Might drive into something that looks like a sunset, and it lasts forever, and i never look back"
(...)
"We move in 4/4 time. Our feet on wheels and in the sky. Yes we're going cause we'd die if we stayed here. And those dying dreams will carry what's good, and real, and pure. And the rest can burn in hell"
(...)
"Every shortcoming has trapped us, every mistake is now our own infinite failure. So we steal every chance we get. Every advantage is taken when no one's looking. We hide behind closed doors. And we don't stop until we are the people we've decided we should be. I wanna be a shot heard round the world, fucking unstoppable. This distance is not something we'll regret from here, and now, and today, and forever, and days after that till the very end."

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A encantadora ilusão de poder





Ás vezes me pego pensando em cousas que eu poderia fazer. Traço metas e propostas maravilhosas e cheias de coesão. Porém, isso sempre acontece durante uma caminhada, espaço temporal em que me desligo dos problemas reais, culminando na obliteração da maioria das idéias que formulei. Já pensei até em andar com um caderninho. Talvez um gravador ajude. Mas o pensamento é mais rápido do que minha capacidade de verbalizar. Bom, até agora isso não tem nada a ver com o que falaremos, estou só a florear (ou antes, a enrolar) este textículo. Deu tempo até de engajar neologismos. Ok, comecemos.
Estava eu, nesses dias depressivos de calor insuportável, (estava tentado a falar infernal, mas não compartilho com a idéia de que o inferno é infernal, oops! quero dizer insuportavelmente quente.) matutando um infeliz pensamento sobre o homem. Infeliz em dois sentidos: o primeiro é a tristeza que sinto ao pensar sobre nós, mas também por que eu não avanço muito quando penso nisso. É a tal do desenvolvimento sustentável.
Após horas de atenção dadas a palestrantes “ilustres”, a documentários, a leituras, a discussões, a opiniões de amigos fiquei perplexo com tantas possibilidades. Certo jornalista, em um “bate papo” chegou a dizer que uma hora teremos que encarar os dados e modificar nossos costumes. Mas quem é o cara? Quais são os dados? As fontes? Devem estar me indagando os mais chatos historiadores em formação. Não estou a fim de estruturar este texto no sentido acadêmico de ser, então, vão pro raio que os parta! Calma, isto é só pra quem necessita de notas de pé de página e referências bibliográficas para sobreviver. Você, meu caro leitor, não é, deveras, assim. Retomando. Sim! Eu concordo com esta criatura! O capitalismo não é algo natural que sempre existiu, não é a máxima das sociedades. Ele foi construído, é construído, está se construindo. Ou seja, ele também não foi o mesmo desde seu natalício. Ele foi moldado por nós, humanos.
Não é intenção manifestar-me a favor ou contra o fim do capitalismo. Não. Mas é deixar claro, que podemos modificar sim, nossos costumes, e forma de vida. Vejo as pessoas colocarem: “mas é tão difícil imaginar o mundo onde todos são iguais!” “Eu não me imagino sem banheiro!” Ok, a questão não é esta. Mas sim, repensar, ou antes, pensar – pois às vezes nem chegamos a fazer isso – no nosso modo de vida. Estamos, sinceramente e com pesar que digo isso, condicionados, mas temos a possibilidade de extrapolar várias condições e limites. É claro que podemos ser chamados de “punks”, “hippies”, “loucos”, “transviados”, “revolucionários”, “vadios” “libertinos” ou o que for. Mas negar que cada uma dessas denominações romperam com costumes é, para mim, como maldizer o papa para sua respectiva avó católica, ou como ela mesmo diria: um sacrilégio.
Este é o ponto, mudar é possível. Lá vem ele com essa militância idiota. Não é militância! Parem com isso. Idiota. Ah, pode ser. Mas vejam bem. Faz sentido. Outro dia, li um cara que sempre ouvi falar, e adorei o jeitinho sarcástico dele palestrar. Como não citei o palestrante acima,não citarei este. Mas talvez alguns conseguirão percebe-lo. Ele me fez pensar ao dizer que é mais importante ter idéias do que verdades. Foi como uma luva em minhas ilusões líricas pseudo-intelectuais. Idéias. Ter idéias. E eu aqui, pedindo pra que vocês tenham idéias há pouco mais de três semanas atrás.
Cheguei no ponto né? Agora o que fazer? Minha avó abaixa o fogo, e continua mexendo, quando o doce pega o ponto. Eu mudo de assunto. Pelo menos, de exemplos. Estava eu pensando na morte da formiga. Porque amassamos este ser, que não tem nada a ver com a nossa impotência, ou nossa frigidez, sem mais nem menos? (Seria mais coerente dizer ‘metemos o dedão naquele corpinho’, mas eu poderia ser mal compreendido) É uma crueldade, que acontece diante dos nossos olhos, durante os banhos, lanches da tarde e leituras matinais. Na verdade disse isto para evocar um fotógrafo (seguindo a linha editorial de publicação deste texto não revelarei o autor) magnífico que tem um trabalho maravilhoso sobre as espécies em extinção do nosso planeta. Ele nos lembrou algo que passa desapercebido na vida de muitos: não somos os únicos deste planeta! Acorda ô mané!

Óquêi, fico por aqui. Ainda falaria sobre cousas em que acredito, o problema é que eu não sei. Entende? Eu acredito, mas não sei em que. Ainda. Eu tava cansado, e não podia sonhar, agora to começando a pensar que eu to sonhando demais. Oops.


Ah! E um título pode muito bem ter nada que ver com o texto que ele nomeia. Lembrem-se disso: a escolha é tua. (será?)

domingo, janeiro 14, 2007

Os vivos no Labirinto do Fauno

Estava eu pensando com meus botões, quanto assunto não tenho para discutir aqui. Havia prometido ao meu querido Luriel Franco referências aos ataques contra a polícia paulista, e também ao assassinato de Saddam. Havia também um caso sobre andorinhas, e outro que versava sobre pequenos delírios anárquicos. Mas numa quieta noute de sexta-feira, daquelas em que só temos vontade de relaxar e nada mais, saio para uma sessão de cinema com a senhora minha mãe (eu num cinema! rá! engraçado, porém factum est!). Críamos que iríamos simplesmente passar os minutos, grande engano, foi um verdadeiro chute na nuca enquanto tomava pauladas na barriga. O filme em questão: "O labirinto do Fauno". É a história de uma menina que acredita nos seus sonhos (contos de fadas) durante a Espanha de 1944, no decorrer da resistência contra o regime franquista. Como a intenção não é contar o final do filme, mas sim tentar colocar pra fora o que senti ao vê-lo, restrinjo-me a dizer: o filme se passa entre a realidade e a fantasia, e talvez - arrisco friamente - seja uma dialética histórica entre essas duas dicotomias. Ok, chega de tanto desacato.
O filme, como já disse, foi surpreendente e deixou-me sem palavras. Creio que não conseguirei verbalizar o que pensei. Mas com certeza muitas cousas vêm à mente quando me lembro de tal película. Uma delas é a fé da mocinha, cega como um poste mesmo rodeada de tanta crueldade. Outra é a frieza do exército espanhol e a solidariedade que existe dentro desta corporação. A solidariedade dos guerrilheiros e sua não menos cruel frieza também são temas perturbadores. Há estudos sobre a simbologia da resistência e do exército espanhóis retratados no cinema e literatura. Não é minha intenção mergulhar nisto agora. Deixo isto para depois das minhas queridas prostitutas. Hoje quero só, e somente só conseguir compartilhar o sentimento passado por este filme. Uma possível leitura é que nossos sonhos, se realmente acreditamos neles, se realizam. E que no jogo da vida dependemos de nossas ações, mas também de acasos. As ações coletivas podem ir por água abaixo por conta de certa ação individual. (Ahm... aqui consigo perceber o quanto sou materialista, mesmo pra falar de acaso digo que este é produzido por nós, hominídeos. Eita, sô!) Aqui entra aquele velho conflito, será que somos aptos para sonhar? Há sonhos? É possível ainda acreditar? Duuhhh... "Passa". "Repassa". "Paga". "Vamos pagar!"...
Certo. Comecei falando de uma cousa, e quando percebo estou falando de outra, como sempre! Como citei a frieza do homem quando em guerra, porque não atravessar o Atlântico e falar um pouco sobre essa bandas? Pois sim. Ah! O Brasil! Terrinha linda de se ver. Duuhhh, será? Não vou relatar o que todos sabem através da nossa querida mídia televisiva. Mas digo que, o que nossa sociedade vêm passando (chame de guerra civil, Estado paralelo, terrorismo ou o que for!) é fruto nosso. Lembrei-me agora dos travestis na prostituição. Mas quero guardar um texto especial para eles. Bom, mas não passa de outro exemplo de como nossa maravilhosa sociedade diversificante não consegue conviver harmoniosamente com as diversidades que cria! Creio cada sociedade tem o retorno social que merece! (hummmm vou começar a cultivar isto!) E viva a nobreza doutoral!!! E nossa maravilhosa capacidade de ter medo! Agora relembro uma velha canção: "era para ser diferente, devia ser diferente, mas não se preocupe não vai ser."
Já que estávamos resenhando sobre violência, porque não falar do último assassinato mundialmente conhecido, citado mais acima? Ah! Nada como assassinar um assassino. Nada como dar a sentença de vitória para um ditador. "Vitória? Ele disse vitória?" Alguns devem estar pensando. "ELE TÁ LOUCO?!?!" Devem, outros mais desavisados, estar berrando. Sim vitória, digo eu novamente. O famigerado ditador morreu confiante de seus ideais. Seu assassinato só veio a confirmar o quanto nossa incrível capacidade de dialogar é ínfima, ah! e o quanto somos superiores e civilizados - não poderia me esquecer disso! Voltando, o homem pregou uma forma de vida durante toda sua existência, e morreu por meio dela! Olha que maravilhoso! O cara seria meu herói, se eu gostasse de heróis.
Ai, ai. Acabou que eu desviei dos caminhos, não? Talvez não. Talvez este era um caminho a seguir. Recordo, então, o tema que comecei a aprofundar. E deixo a dica: quem sabe você não consegue seguir adiante com um pedaço de giz e sua capacidade de criação? Pense nisso. Tente sobreviver ao Labirinto do Fauno para que possa vencer o governo fascista. Ou melhor: ultrapasse tuas fantasias para que possa alcançar teus objetivos materiais (palpáveis, ou reais se preferirem).
Ahm... Faltaram as crises anárquicas? Acho que não. Ah! Mas as andorinhas, sim! Sim! Mas elas são outras histórias.
Vou tentando me manter, enquanto as palavras, que são idéias, tentam se formar inteligivelmente em meu cerebelo. Enquanto isso, desculpe por erros de digitação e ortográficos.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Algum porque do endereço deste blog e experimentos



Foi difícil escolher um nome para estas pequenas comunicações com meus iguais. Pensei primeiramente em colocar “Cemitério dos Vivos”, título de um dos últimos escritos de Afonso Henriques de Lima Barreto, depois “Prazeres da Noite”, título do livro da historiadora Magareth Rago, mais tarde veio à mente o título “A morte de Ivan Ilitch” de Tolstói. Titubeei bastante antes de escolher, quis juntar os títulos, mas acabei desistindo de todos. Lembrei então de um dos meus preferidos, Bukowski. Daí veio à mente John London, da historiadora Lená Medeiros de Menezes, e de novo os escritos de Barreto. Então percebi que os indesejáveis sociais estavam sempre presentes nas minhas experiências. E rearfimei algo que sempre soube, minha identificação e auto-afirmação como um indesejável. Por isso, e por muito mais escolhi deixar algumas notas das minhas (in)certezas pessoais, e das minhas subversivas loucuras, que têm um que de vagabundagem.Esta minha desventura que é escrever irá guiar as linhas destas páginas. Portanto, aviso aos navegantes – este clichê cai bem neste caso – que meu intuito principal aqui é escrever, sem pedantismo, sem pretensões maiores do que simplesmente botar cousas para fora. Desdenhem, xinguem, contestem, e sintam-se à vontade de sentirem-se perturbados.
Appréciez vous:
Experimentalismo ácido contra dogmas da ciência.*
Dedico meus aprendizados aos que por minha vida passaram. Quantas vezes não agi de forma não consciente das conseqüências. A formação intelectual tem muito que ver com a experiência de vida que compartilhamos neste pequeno percurso que é a vida. Magoei a muitos, fiz outros poucos felizes, mas o mais forte foi o que aprendi com todos os campos das relações humanas. Aliás, relações estas que sempre foram conturbadas. Sempre tive mais facilidade com meus pensamentos solitários ou com os livros. Confesso que custei a conseguir manter relações duradouras. No sentido de me abrir e manter diálogos infinitamente profundos e simples com as pessoas. Aprendi a me abrir. Ao tentar sublimar o passado aprendi que a cada nova tentativa desta (impossível?) ação eu lembrava mais, e guardava dentro de mim as sensações, as caras e bocas, os cheiros, os pensamentos com os quais cruzei. As leituras que fiz não são comparáveis com as realidades com as quais convivi. Mas sinceramente, muitas conseguiram transpor em palavras coisas que não conseguia verbalizar. Talvez pelo fato dos autores daqueles textos terem vivido e experimentado as coisas antes da escrita. O que antes – o diálogo – era um tanto quanto superficial, agora já não o é. Fico a observar as falas, procuro escutar e dar atenção aos outros, para poder contribuir, ou não, no processo que se conforma, a comunicação.
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Eu vejo as possibilidades sublimando no ar. Mas havia tanto potencial. Porque tudo está assim? Tantos caminhos, porque cristalizar? A cada paulada desisto de desistir. E aprendo com certas palavras como erguer, mirar o sol, e caminhar. Sangrando.Aprendo com certas ações, e observo. Observo a cidade de cristal. Lapidada para sobreviver, mas dura e fria para com seus sobreviventes. Não há sonhos? Há de se ter. E talvez aí esteja um dos pontos para se desatar este complexado nó. Parecemos, porém, infectados por uma cosmologia que nos une. Seria tudo isso um vício, ou um hábito difícil de se desprender? Eu queria ser capaz de consertar nossas falhas. Mas não me reconheço capaz. Encarar os mecanismos e os processos relacionais face a face produz em mim certo distanciamento da realidade. Como se eu não me encaixasse. Mas sei que é só uma sensação. Ainda não estou no Cemitério dos Vivos, ou pelo menos acredito não estar. Penso, talvez, que já deveria estar. As reclusões poderiam servir como forma de revitalização dos sonhos.Os (i)migrantes querem cantar a noite inteira. Mas o cemitério dos vivos, construído por nós mesmos, é resistente a este canto. Ao canto dos indesejáveis. Desistir da realidade é o oposto do que queria. Permanecer e lutar, estas são as vontades, pois aqui não é nenhum asilo, ainda. Viciados, alienados, servidores, escravos, cidadãos, agem e movem a cidade. Os citadinos ainda podem controlar suas escolhas. Caminhando para o inferno ou para o paraíso, eles escolhem movimentar suas pernas cansadas e suas bundas flácidas para usufruir o que está dado, mas esquecemos, por um lapso, da nossa capacidade de criar.Nós, os indesejáveis sociais, sempre teremos que carregar os estigma de perdedores? Se lembrarmos desta capacidade criativa, e deixarmos o pessimismo geográfico, o papel social de privada (ou quintal, como preferirem) que as teses de História implementaram sobre determinados grupos e países, não.! Não mesmo. A criação é própria do ser. Não há como classificá-los por simples justificativas que analisam ora a questão financeira, ora a questão geográfica. Diferentemente do que se acredita por aí, e isso são resquícios do século XIX, senão do XVIII, vai saber, não concordo com uma Ciência que tenta estupidificar os pobres e provar com “dados empíricos” a estreita relação entre pobreza e crime. Volto a lembrar Barreto, que já em 1921 criticava essa forma de classificar e racionalizar as relações humanas e duvidava da tese sobre a herança criminal criada e defendida pelos intelectuais da época. Mas creio que caminhei para uma outra, e longa, discussão. Deixo para uma outra hora divagações mais profundas. Mas antes devo lembrar-vos: Criem! Imaginem! Inventem! Transformem! Todos somos capazes.
* Título inspirado na expressão de Luriel também conhecido como Luís Amâncio: “acidez experimental”. Para saber mais sobre o autor da minha inspiração veja: http://wwsuicide.uniblog.com.br. Veja também: http://www.superchapolin.blogspot.com/ de Mendes Menezes e http://www.rawl-rawl.blogspot.com/ de Mawral para inspirações de minhas perturbações foto e fonográficas.