quarta-feira, julho 02, 2014

a noite (09/08/2008)


até que ponto pode-se ir, contando que ainda seja viável voltar?

a noite me conforta. mas ela me diz que continuo fazendo a mesma coisa dia após dia.

dormindo às duas, acordando às seis.


até que ponto pode-se ir, contando que ainda seja viável voltar?

de corpos e tormentos


pode ser que eu tenha nascido com um corpo atormentado, ilusório como a imensa montanha; mas é um corpo cujas obsessões servem para alguma coisa; e percebi, na montanha, para que serve a obsessão de contar. não houve sombra que eu deixasse de contar ao vê-la dando voltas ao redor de alguma coisa; e muitas vezes foi somando sombras que cheguei até estranhos lugares. vi, na montanha, um homem nu debruçado numa grande janela. sua cabeça era apenas um buraco, uma espécie de cavidade circular na qual, conforme a hora, aparecia o sol ou a lua. seu braço direito estendia-se como uma barra, o esquerdo também era uma barra, mas mergulhado em sombras e dobrado.