sábado, fevereiro 07, 2009

de carteiras e sapatos

pronto! já peguei o terno do meu irmão. o cabra viajou e deixou a nota da lavanderia para que eu pudesse pegar o dito. peguei. antes passei uma hora procurando minha carteira: 'onde estará aquela sacana? debaixo da cama, no sofá, dentro dos armários, em meio aos livros, no banheiro, junto às roupas para lavar, dentro da máquina?' onde estaria a coisa maldita que proteje documentos e papéis, mais papéis inúteis do que úteis, mas, por vezes tornados necessários. passados sessenta minutos, achei-a no primeiro local procurado. grande começo! hora de partir em busca do terno lavado a seco. foi um suor só. poderiam até me acusar de comparsa da chuva, com tanto líquido esguichando de meus poros. todo aquele sol quente na minha cabeça, que forçou meus aovéolos a trabalharem mais rápido, e meu sangue, concentrado em minhas pernas, a voltar rápido para o coração, faltando-me o ar. mas pronto, peguei, paguei. voltei enchardo de suor, mas o serviço miserável estava feito. agora só faltava provar. bom, a calça é apertada, mas é só para uma noite, a gente faz um sacrifício. o casaco até que ficou na pinta. menos mal. olho pro pé e pronto! vejo-o cabeludo, colorido, e branco. falta-me o sapato. 'caramba! o sapato! preveni-me, pedi a nota da lavanderia com antecedência, e esqueci da porra do sapato. tio, tu calça quanto?' 39. 'pô, não vai caber. será que rola algo na tua casa?' ele foi ver. fico desesperado vasculhando o guarda roupa. bom, claro que não há sapato no meu guarda-roupa. pra que diabos eu iria usar um sapato? "em dias como esses, idiota!" pô, eu sei, mas eu não uso, não tenho, não quero ter. na casa do meu tio fui recebido por latidos estridentes. como eu adoro cachorros.! o bicho ficou me enrrabando no meio da sala, fornicando com minha perna e cheirando minhas bolas. legal! daqui a pouco fico todo molhadinho! entro na casa e calço o primeiro pé do sapato! caramba! o troço ia fuder meu pé, mas mesmo assim obriguei-o a encaixar-se em minha chulapa. a dor foi grande, mas pelo menos eu tentei! é preciso várias tentativas se quiser arrumar um sapato emprestado. bom, depois dessa tromba d'água porreta, que está caindo agora, sairei para comprar. quem sabe, não rola uns baratos por conta da enchente? ou até mesmo alguns espalhados pela avenida! quem sabe?
ô menino, disse minha tia, tenta esse aqui! o troço entrou, e fez meus sustentáculos latejarem.
minha expressão foi justamente o contrário! 'claro que serviu tia! nossa! muito obrigado!' "tem certeza que não tá apertando?" 'claro! absoluta!' o que eu poderia fazer? era minha última chance antes de gastar uma nota com uma coisa que não iria usar! levantei-me e arrebentei meu côco no lustre baixo do quarto de meu primo. vi estrelas. legal! agora tinha dores em duas extremidades do corpo. uma para esquecer a outra! os chineses são bons nessas experiências! que idéia boa essa, não? "e a gravata,? leva essa aqui!" ela parecia seda de cuecas, como disse minha avó, mas era a melhor do mundo naquele momento. faltava-me achar o outro pé da minha meia. ótima busca. roupas para o chão, na cama, viradas e reviradas e nada. é hora de dobrar as peças espalhadas e encarar o sapato com meias grossas. mas será que minha vó não teria uma meia fina? tem meia-calça! disse ela. bom, pelo menos ninguém verá minhas pernas, não haverá muito mal. mas ela encontrou uma soquete antes de decidir-me pela LOBA. beleza, mais uma dívida: pagar a meia destruída da vovó. no fim, tudo certo. vestido, bati com os dedos com toda força no batente da porta, para esquecer-me do pé e segui para a festa. quinze minutos depois da entrada triunfal eu já estava sem paletó, gravata, sapato e com as mangas arriadas, sorrindo feliz para os noivos que passaram pedindo votos dos convidados. valeu o esforço: a noite foi boa junto à minha amada, especialmente após a chuva que tomamos na saída da festa. de uma coisa eu sei: tenho que pensar melhor sobre a idéia de comprar um sapato.