domingo, outubro 24, 2010

quando escrever é fazer-se...

quando escrevo não escrevo o que eu sou. por mais profundo que o texto seja ele nunca dá conta da nossa condição de epitélio. (é que a simplicidade é muito mais complexa do que possamos pensar.) na verdade o escrito é que nos dá possibilidades de ser. nos fazemos com ele e nele. depois nos refazemos, pois um texto não consegue lidar inteiramente com almas e corpos - que mais parecem papéis, que podem ser dobrados e desdobrados. quando escrevo não falo de mim. falo comigo. com você, ou você, talvez até mesmo com você. mas nunca de mim, inteiramente. e sim, daquilo que penso ser, que quero ser, inclusive daquilo que quero distância, que quero me desfazer. escrevo para machucar. pois ao mesmo tempo que o texto procura cicatrizar as feridas, outras tantas armas são dadas, nesse e por esse mesmo texto, para que mais feridas se abram. as criaturas que surgem do ato de escrever sou eu e é o texto. mas é preciso lembrar que ser não é eterno. que ser não é essência. e que escrever é sempre re-criação. sempre uma ação de repetir. repetir para que as cousas possam se tornar diferentes, como me ensinou uma criança na sua segunda infância. por isso o que escrevo não sou eu. não escrevo o que sou.

os esporos se abriram com a amoreira

uma amoreira linda
caminhou 719 km
e deu flores aqui,
perto do meu peito.

seu sorriso era contagiante
e seu cheiro se espalhava
por todo meu corpo.

explodi de tesão e amor.
lancei esporos nos ares
e me infiltrei no solo,
no seu tronco
e na parede do banheiro.

a amoreira cheirosa
continuou sua andança,
deixando rastros de amor.

e eu me expandi,
ao me fragmentar.
estou aqui,
mas também junto dela.

segunda-feira, outubro 18, 2010

de cruzamento dos caminhos

foram seis anos de olhares cruzados. seis anos de 'olá como vai?'. seis anos de interesses em comum. seis anos errando em diferentes caminhos. seis anos de tensões. seis anos sem se tocarem. e de seis anos de desejos ludibriados, quando os caminhos se cruzaram. uma explosão. um frio na barriga. uma combinação entre peles e cabelos. uma falta de sangue no pênis. um turbilhão de dedos nos corpos. um excesso de sangue no pênis. um emaranhado de línguas e suores. um tempo de orgasmos. sem sacralização. sem pressão. com carinho. com tesão. e nada mais.

domingo, outubro 17, 2010

de desvios dos devires

aconteceu que quase tudo desacontecia, e de tanta coisa que podia ser mas não era, muito desaconteceu durante sua acontecência, era mais desacontecimentos que acontecimentos, e então passou a viver um pouco de cada desacontecimento de que tomava nota, desfizera-se em meio aos conflitos de outrora, desacontecendo-se, e passara a acontecer de outra forma, sentiu, subitamente, saudade de seus antigos acontecimentos e tentou retornar, mas perdera toda referência no meio dos caminhos, e já vagava sem memória alguma daquilo que já tinha acontecido e daquilo que tinha desacontecido, se acostumou a viver o que estava acontecendo e tentava fazer acontecer aquilo que sonhava para suas novas aventuras.