sábado, maio 19, 2007

os bárbaros ou a eterna vontade de romper com a catástrofe

- exceder. é o que me falta. tenho medo de me tornar um novo rémy. não que ele seja medíocre. não apoio esta tese. não quero é me arrepender daquilo que deixei de fazer. ficar pensando a vida toda em escrever "memórias póstumas de brás cubas" é o que não quero.! prefiro escrever as 'memórias de um porco doente'. o importante aqui não é, na realidade, escrever memórias mas fazer algo que possa, mais tarde, ser propulsor da vida. ou seja, produzir sem medo, não importando se o trabalho será reconhecido ou não. pois a partir disso poderemos execer. tirar as máscaras e sermos humanos - ensinamento herdado de uma linda professora que lia cioran, iracema. mas somos tão frágeis. e não conseguimos encarar a morte com naturalidade como cioran o fez. mas deveríamos. tenho medo de morrer, e como rémy talvez o medo seja na realidade de perder algo que não mais possuo. só que no meu caso não é o passado que vivi, mas o não vivido, e o porvir. tenho medo de perder o porvir e viver perdido num limbo (agora defendo sua existência) aonde o que foi possível nunca mais será. é como que um mundo novo, ou uma proposta presa em uma bola-de-gude. que viverá enquanto bola, porque quando a bola se desfizer a proposta se romperá, tornando-se uma enorme gama de possibilidades. possibilidades já não mais executáveis na ocasião em que se cristalizou. possibilidades que poderão ser perdidas ou incorporadas por novos 'rémys', que novamente temerão pelas boas oportunidades perdidas.
- "hey! então, preste atenção nas oportunidades que não perdestes ainda!"
- sim senhor, peligro! é sempre bom conversar contigo.!
- "disponha"

sábado, maio 12, 2007

Precisamos nos encontrar

A vida surpreende a cada nova morte de um segundo. É no segundo que o pensamento nos permite conectar realidades, teorias, textos, produções humanas no geral. Na verdade, em um primeiro segundo fazemos uma aproximação entre duas produções aonde procuramos observar as possibilidades de diálogo entre elas. E num outro segundo conseguimos – por estalos, após meses, senão anos, dando murros em ponta de faca – fazer a conexão de determinadas realidades. Creio, realmente, que o trabalho de atentar para o resto do mundo enquanto estamos obstinados a enfrentar um único objeto é crucial para ir além das fronteiras do senso comum. Para avançar em questões novas e que, por vezes, e muitas por sinal, passam desapercebidas.
Muitos de nossos princípios talvez venham de lugares nunca visitados ou imaginados. Talvez o tempo seja uma chave para este baú lacrado quase esquecido no fundo do porão. Ao tratar do passado - e porque não o presente? - devemos ter em mente que nossas experiências sofrem influências das marcas do passado. Pensar que essas experiências como um amalgama de histórias: a vivida, a pesquisada, a estudada, a analisada, a narrada, (como nos ensinou Lucília Delgado, mas também) a ensinada, a almejada, a oficializada, a sentida, a documentada, a (re)lembrada.
Percebi que a conexão entre o eu e o você é maior do que imaginamos. Maior que nossos umbigos!
"Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a procurar, sorrir pra não chorar. Quero assistir ao sol nascer. Ver as águas dos rios correr. Ouvir os pássaros cantar. Eu quero nascer, quero viver... Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar depois que me encontrar. Deixe-me ir..."
!

terça-feira, maio 01, 2007

rascunhos sobre o velho

é... e o velho continua andando pelas sombras e sobras. escondendo suas rugas e desencantos. procurando não deixar escapar de si que ele sente, como que tatuado em sua testa, suas rugas e desencantos. anda confundindo, em sua solidão, saudade e alívio daquilo que já passou, daqueles que passaram por ele. e não crê mais nos sonhos. aliás, já não há mais espaço para as ilusões de outrora. se sente como um vendedor de si mesmo, e crê que oferece mais do que recebe. na verdade ele não consegue mais sentir prazer, a não ser quando tenha algo para oferecer. hoje em dia já não tem mais nada para oferecer, mas ainda não sabe disso. o velho anda pensando sobre suas conquistas, seu trabalho, sua falecida esposa, suas amantes, sua vida. e mais, se questionando se ele chegou a escolher tudo isso, ou simplesmente aceitou as escolhas alheias. e discute com seus botões sobre seu caráter: "somos sinceros ou hipócritas?". ele mal sabe que as situações de sua vida foram sempre assim, conflitos de interesses díspares que aceitavam múltiplas negociações e interpretações. o velho não percebeu em suas reflexões que, durante esses conflitos, sempre preferia se calar.
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