domingo, julho 01, 2007

fragmentos sobre aqueles que estão reunidos em uma pessoa só

tocando os pés daquele senhor, naquele quarto escuro com um cheiro acre, ele pensava em descrever aquela sensação de angústia e alívio. ele sabia que aquela massagem o conectava àquele homem deitado naquela cama inclinável. e doía quando batia às portas de seus pensamentos uma idéia moribunda, que sempre lhe deu calafrios. a idéia de que poderia ser a última massagem. mas isso não lhe preocupava. eram dores constantes, logo, já não tinham tanto impacto sobre seu corpo. o que importunava sua mente era o fenômeno que ele estava ainda por nomear. era a situação vivida ali, durante aqueles poucos minutos de cumplicidade desproporcional. mas os dois pareciam saber que aquele momento eram deles. aquela massagem parecia como uma tradição secular de demonstração afetiva. à frente daqueles dois corpos unidos pelo vai-e-vem que suas almas faziam, caminhando de um corpo a outro, a televisão estava ligada entretendo superficialmente os dois olhos daquele senhor, que havia se entregado ao ritual. ela fazia o simples papel de iluminar com diferentes cores aquele quarto escuro conformando o cenário daquela união.
...
naquela tarde fria e ensolarada aqueles jovens percorrem alguns quilômetros com o sol tocando suas faces amareladas. eles conjecturam sobre o futuro, sobre seus desesperos, suas utopias coletivas e frustrações mundanas. eles acham engraçado querer construir algo em coletividade ao mesmo tempo em que se sentem, individualmente falando, incapazes e inúteis. riem com tanta intensidade que chegava a sair lágrimas de seus olhos. ao encontrarem o local desejado para compartilhar a tarde e a noite que logo chegaria eles se esticaram numa grama verde e macia. justamente como ela queria, mas não tanto como ele imaginava. as gargalhadas sinceras e cúmplices transformam-se em olhares profundos que dialogam entre si numa sintonia estranha e magna. estranha é também a intensidade dessas tardes que eles costumavam compartilhar. compartilhando mundos e nunca se fechando para eles. reunidos numa pessoa só eles deixavam seus corpos e almas se comunicarem com o resto da comunidade à qual estavam integrados.
...
seguindo seus desejos de unir-se com sua amiga de forma diferente das já tinha vivenciado, ele pega aquelas pernas macias e carnudas, sentindo as gorduras de suas mãos entrando em contato com as gorduras das pernas dela. e aproxima estas ao seu rosto, respirando junto àquelas canelas um ar quente e úmido. os corpos dos dois se contraem de prazer. de um duplo prazer. ele por massagear os pés dela e receber carícias em seus joelhos. ela por fazer essas carícias e receber aquela massagem. a intensidade daquele momento fez com que seus corpos se comunicassem num ritmo estremecedor. suas almas se encontravam de tempo em tempo. e a cada encontro um tremor abala as estruturas de seus corpos.
corpos e almas reunidos numa pessoa só.

8 comentários:

Helena disse...

Maravilhoso !!

Adorei!
Fico imaginando o que poderia ser extraído de você durante um período em cativeiro rsrs. Férias de um ano, por exemplo. Quanto a humanidade não ganharia com isso?
Deixe fluir... não guarde só pra você não é justo.

Há aqueles que, com certeza, precisam de suas palavras. Portanto, não seja egoísta.
Beijo
Helena

marthacomth disse...

Bom, eu sou partidária da opinião de que vc devia se manter mais ativa no blog sim.. gosto um tanto das coisas que vc escreve.
E vc viu que eu ma entrei no blog e já viciei né?! É que eu gosto de escrever também, embora eu escreva de um jeito beeem menos legal que os eu.. hehe... mas ainda assim, um jeito =)
Beijones!

marthacomth disse...

escrevo de um jeito bem menos legal que o "seu".

maldita dislexia de teclado ¬¬

mauro F disse...

Eu sou uma farsa, não sinto porra nenhuma por ninguém e não quero mudar essa minha posição idiota.



Mas o amor é lindo.


E eu fico tentando não ser piegas e então vocês me desconhecem por um estático segundo.

l. f. amancio disse...

seguem três comentários:
1 -poxa pessoal, é só começar uma campanha: "atualiza, barrão"!
2 -esse texto me lembrou uma música das Spice Girls, "2 Become 1". Eu gostava delas, quando tinha 11 anos, jogava meus jogos antigos de vídeo-game e escutava rádio com fone de ouvido, ficava feliz quando a radio dispara músicas delas. elas, também, eram atraentes...
3 -gosto das suas descrições do mundo, sempre muito táteis - nesse texto fica flagrante. deve ser o sentido mais apurado seu, o que te diferencia da maioria de nós, na ditadura da imagem.
comentário extra - abraço!

lévia disse...

.....mesmo porque corpo e alma não são a mesma coisa!(lá vem ela com essa de novov) e porque nós apenas estacionamos!....

fofo, voltaste a escrever!.....não sei escrever!

bjo pro gordo!

marthacomth disse...

ui, fofo!!!

Anônimo disse...

Obrigado, senhor, por este momento de beleza.