sexta-feira, outubro 12, 2007

diariamente uma mente velha transforma seu legado

o velho já não pode mais sair pois dói o pescoço, dói a coluna, dói a pele, doem as costas, doem os órgãos vitais, doem as pernas, doem os músculos, doem os dedos. o velho pensa no dia de ontem e vê a confusão lírica que foi sua passagem. corpos extravasando seus amores e ódios, defenestrando-os para cima de outros corpos. corpos em comunicação. é quase impossível para aquele velho pensar, colocar em forma de palavras, os ritos por ele vivido. mas o pensamento se forma a partir do sentimento que ocupa sua mente insana, carregada de uma imensa soma cosmológica produzida por séculos de civilização. uma mente que se encontrou com seus antepassados mortos e que procurou superá-los. procurou não deixar a centelha se apagar. orientando as ações de seu corpo no sentido de deixar um legado maior que o dos mortos. no sentido de avançar as peças no tabuleiro de forma a surpreender seu adversário. uma mente que movimentava cada peça com o esforço de alcançar a rainha e não o rei, frustrando toda expectativa do adversário. ela não mudou as regras do jogo, mas mudou a forma de interpretar o jogo. ou pelo menos a forma que ensinaram para ela. forçando as mentes que o rodeavam a, pelo menos, encarar outras formas de perceber o jogo, ou melhor a vida. ela sabia que essa metáfora não fazia jus à complexidade da vida. mas ela sabia, também, que a metáfora não precisava ser racional. e para ela, a vida devia mais à metáfora do que o contrário. e os mortos deviam mais à vida. do que a vida aos mortos. mas ela sentia-se em dívida com os legados, pelo menos os que lhe apeteciam, dos mortos. e buscou aperfeiçoá-los. depois de olhar para ontem, a mente do velho percebeu que as dores de seu corpo só se externalizavam porque este corpo agiu. a mente do velho se encheu de hormônios ao perceber que as escolhas feitas para sua atuação, em conjunto com o corpo, geraram as inúmeras dores neste presente. ao perceber-se como criadora de um legado que irá ser superado. as substâncias que invadiram o espaço daquela mente reagiram e conduziram para a face do velho impulsos. surgiu em seu rosto um sorriso. de quem vai sair de casa. na busca de superar seu legado.

7 comentários:

Ana Luiza Paes Araújo disse...

O nome da bolsa é BIG (Bolsa de incentivo à graduação). Mas o racismo0 velado não é com a negada não, é com aqueles que os movimentos negros chamam de brancos. Acham que é pela quantidade de melanina na pela podem decifrar quem precisa - ou merece - uma bolsa na universidade. é um absurdo!

lévia disse...

superação do legado.....ou aprender a ser indiferente ao que passou?....e se calar achando que esqueceu ou para esquecer!!!!!!! mas no fim se nasceu um sorriso isso é que importa, e não toda essa caminhada confusamente, ou supostamente, lírica! 9mas se bem que ela tb tem lá suas vantagens...quais?)

bjo!

l. f. amancio disse...

Barrão, meu velho!
Grande, grande texto! Tanto nas partes quanto no todo. Já escrevi um texto com um personagem velho e, realmente, é muito interessante pensar nessas pessoas com tantas informações, tantas emoções e pensamentos acumulados, sendo processados. Mas nem por isso. Por outro lado, nada disso significa segurança, sabedoria.
Enfim, seu texto vai muito além e eu estou puxando um ponto aqui que nem é tão importante.
Ah, aparece aqui no dia 7/11 para ver o mais histórico da História da UFMG: Campolina defendendo a tese de doutorado!!!!
Grande abraço, Barrão!

ca disse...

oioi
acabei caindo aqui, entao..
gostei muito ,
vou te favoritar haha
;)
bjin
ca.

e lá.. é amanda horta, sim.. conhece ne?êlindeza

Anônimo disse...

Sair de casa já é se aventurar?

em desconstrução disse...

gostei de saber que foi bom.
fico curiosa de saber se é aquele que cedeu número um ou dois, mas enfim, vou te lincar ali

Alexei Fausto disse...

O tempo, passa o tempo.

A cada segundo, ficamos mais próximos do momento derradeiro.
Porém, será mesmo que devemos nos deixar levar pela velhice?

Não, devemos superar nosso legado.