terça-feira, janeiro 30, 2007

Forte como Peroba...



Estava pensando nas tradições. Certo dia ouvi esta máxima: “forte como uma peroba e livre como um vento”. Corri atrás de sua autoria. Picchia. Mas só para constar, porque não estou dando a mínima para análises profundas agora. O cara veio de uma tradicional família paulistana e, como todo bom literato foi tudo, político, jornalista, banqueiro, advogado e todas essas profissões que envolvem a palavra. Daí botei o Teco para funcionar e ele me informou como a tal da tradição é importante para a formação das vidas das pessoas. Aquela pequena frase pode ter levado milhares de brasileiros (só porque nasceram neste território) a se pensar enquanto tais.


Relativizando minha fala: a frase solta pode fazer sentido em vários aspectos, mas no corpo do seu texto original ela faz alusão ao caboclo, que um dia, por desejo dos pais, será doutor. Agora sim faz um pouco de sentido a frase acima. Isso mesmo, pouco. Se pensarmos a palavra doutor hoje, veremos que ela se assemelha um pouco do sentido de outrora. Talvez naquele momento o doutor poderia significar ter cargo público e tudo mais, bem como o título das famigeradas “Faculdades”. Hoje sabemos que é o título doutoral é dado a quem o defende. Porém ainda vemos por aí pessoas sendo chamadas de doutor sem ao menos ter cursado a graduação, ou somente passou por ela. É o caso dos médicos, advogados, juízes, mas também dos deputados, senadores e outros “ilustrados”.


Sim, a duração é longa. E a república continua dos doutores. Um grande exemplo de tradição firmada pelos “construtores da nação”, que pelo visto está se reformando desde seu início. Processo lento, gradual e seguro. Seguro à nação. Mas cá pra nós, o que é esta nação. Ou melhor, quem é ela? Ah, eu me canso de pensar nesses termos. Já estamos cansados de ouvir minhas reclamações sobre isso. Estamos, porque concordo com todos vocês quanto às minhas reclamações chatas e inoportunas. Mas se eu não puder ser inoportuno, simplesmente REproduzirei tudo, como antes, ou seguindo este tempo. Tempo sombrio, tempo límpido. Ambivalente ou contraditório, escolha suas palavras, suas idéias.


Ao negar tudo estaríamos simplesmente fugindo? Ou colocando os pés em nossas próprias vísceras e infectando nossa organização vital? Mudança de comportamento, ou facilidade diante dos problemas? Negar quer dizer destruir? Não somente. Será que ao destruir não estaremos instruindo, construindo algo? Limitados e castrados pelas idéias, somos ao mesmo tempo capazes de fomentar, através delas, vidas novas. Ás vezes penso: Será que não estamos na tradição da mudança? Mas esta mudança é, para nós, sinônimo de alternância de governos. Ai, se os cientistas políticos tivessem acesso a isto.
Voltemos, então, ao princípio. A contravenção muitas vezes mantém em suas supostas radicais transformações, ranços do tradicional. Vide as feministas do final do XIX e do início do XX no Brasil, ou ainda o governo Stálin. Esses processos carregaram em si muito daquilo que negavam, até mesmo como forma de se auto-afirmar e de suportar suas plataformas, se é que podemos falar disso no primeiro caso. Enfim, as tradições também são importantes nesses processos. Quantas divagações para nada. Inventei a roda! Ah. Às vezes eu gosto de ser óbvio. Ou de perceber que o sou depois que estou preste a terminar um texto.


Ao iniciar este pequeno processo, que chega ao seu limite, a intenção era dizer sobre a importância da tradição nas vidas das pessoas, e acabei, como sempre e isto está virando moda, desvencilhando outros incômodos. Mas retomo o início. É fácil observar como a tradição é importante para nós. Na meio rural, nas cidades, na vida social, no trabalho em qualquer lugar, as crenças, mitos, hierarquias que construímos são feitas em favor da lógica do processo de sociabilidade. Sem elas fica difícil de imaginar algo em funcionamento. Quem diria, eu dizendo isto. Porém com isto não estou dizendo que abandonei os pensamentos líricos e libertários, pelo contrário, estou assumindo que neste pensamento tudo acima enumerado é também de suma importância para a harmonia buscada, mas claro com níveis e funcionamento totalmente distinto do que estamos acostumados a pensar, viver. Veja a tradição oral. Ela é importantíssima para os trabalhos agrários, para os ofícios manuais, para os ofícios intelectuais e até mesmo para a cultura anarquista.


Depois de defender meu cu do ataques de nabas voadoras retorno, novamente. A tradição da peroba, forte e imbatível se sustenta mesmo com refutações dessas idéias por cientistas (doutores) que afirmam sobre sua falsa resistência às intempéries. Sua força é tamanha que ultrapassa gerações e forma seus indivíduos-coletivos. É essa tradição que é capaz de formar, ao mesmo tempo, um novo Abílio Diniz ou Oswald Andrade, ou Prestes, ou Cecília Meirelles, ou Rainha Vitória ou o José, ou a Antônia, ou a prostituta Maria, ou o padeiro Manoel, ou a costureira Josefina, ou você ou eu ou ad infinitum.


Quanta miscelânea. Quanta confusão. Quanto sobrecarga. Quanto lengalenga.

Agora, para fechar, me diga por que não podemos ficar?


Diante do nonsense do mundo por que preciso explicar esta postagem?

O mundo continua dormindo...

Trechos que me incomodam:
"And tomorrow we'll take aim, just like a storm waiting for a calm. I can feel everything coming in my chest, my heart's already pounding, my head's on far-off highways, sixteen years old, on a road that never ends. Might drive into something that looks like a sunset, and it lasts forever, and i never look back"
(...)
"We move in 4/4 time. Our feet on wheels and in the sky. Yes we're going cause we'd die if we stayed here. And those dying dreams will carry what's good, and real, and pure. And the rest can burn in hell"
(...)
"Every shortcoming has trapped us, every mistake is now our own infinite failure. So we steal every chance we get. Every advantage is taken when no one's looking. We hide behind closed doors. And we don't stop until we are the people we've decided we should be. I wanna be a shot heard round the world, fucking unstoppable. This distance is not something we'll regret from here, and now, and today, and forever, and days after that till the very end."

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A encantadora ilusão de poder





Ás vezes me pego pensando em cousas que eu poderia fazer. Traço metas e propostas maravilhosas e cheias de coesão. Porém, isso sempre acontece durante uma caminhada, espaço temporal em que me desligo dos problemas reais, culminando na obliteração da maioria das idéias que formulei. Já pensei até em andar com um caderninho. Talvez um gravador ajude. Mas o pensamento é mais rápido do que minha capacidade de verbalizar. Bom, até agora isso não tem nada a ver com o que falaremos, estou só a florear (ou antes, a enrolar) este textículo. Deu tempo até de engajar neologismos. Ok, comecemos.
Estava eu, nesses dias depressivos de calor insuportável, (estava tentado a falar infernal, mas não compartilho com a idéia de que o inferno é infernal, oops! quero dizer insuportavelmente quente.) matutando um infeliz pensamento sobre o homem. Infeliz em dois sentidos: o primeiro é a tristeza que sinto ao pensar sobre nós, mas também por que eu não avanço muito quando penso nisso. É a tal do desenvolvimento sustentável.
Após horas de atenção dadas a palestrantes “ilustres”, a documentários, a leituras, a discussões, a opiniões de amigos fiquei perplexo com tantas possibilidades. Certo jornalista, em um “bate papo” chegou a dizer que uma hora teremos que encarar os dados e modificar nossos costumes. Mas quem é o cara? Quais são os dados? As fontes? Devem estar me indagando os mais chatos historiadores em formação. Não estou a fim de estruturar este texto no sentido acadêmico de ser, então, vão pro raio que os parta! Calma, isto é só pra quem necessita de notas de pé de página e referências bibliográficas para sobreviver. Você, meu caro leitor, não é, deveras, assim. Retomando. Sim! Eu concordo com esta criatura! O capitalismo não é algo natural que sempre existiu, não é a máxima das sociedades. Ele foi construído, é construído, está se construindo. Ou seja, ele também não foi o mesmo desde seu natalício. Ele foi moldado por nós, humanos.
Não é intenção manifestar-me a favor ou contra o fim do capitalismo. Não. Mas é deixar claro, que podemos modificar sim, nossos costumes, e forma de vida. Vejo as pessoas colocarem: “mas é tão difícil imaginar o mundo onde todos são iguais!” “Eu não me imagino sem banheiro!” Ok, a questão não é esta. Mas sim, repensar, ou antes, pensar – pois às vezes nem chegamos a fazer isso – no nosso modo de vida. Estamos, sinceramente e com pesar que digo isso, condicionados, mas temos a possibilidade de extrapolar várias condições e limites. É claro que podemos ser chamados de “punks”, “hippies”, “loucos”, “transviados”, “revolucionários”, “vadios” “libertinos” ou o que for. Mas negar que cada uma dessas denominações romperam com costumes é, para mim, como maldizer o papa para sua respectiva avó católica, ou como ela mesmo diria: um sacrilégio.
Este é o ponto, mudar é possível. Lá vem ele com essa militância idiota. Não é militância! Parem com isso. Idiota. Ah, pode ser. Mas vejam bem. Faz sentido. Outro dia, li um cara que sempre ouvi falar, e adorei o jeitinho sarcástico dele palestrar. Como não citei o palestrante acima,não citarei este. Mas talvez alguns conseguirão percebe-lo. Ele me fez pensar ao dizer que é mais importante ter idéias do que verdades. Foi como uma luva em minhas ilusões líricas pseudo-intelectuais. Idéias. Ter idéias. E eu aqui, pedindo pra que vocês tenham idéias há pouco mais de três semanas atrás.
Cheguei no ponto né? Agora o que fazer? Minha avó abaixa o fogo, e continua mexendo, quando o doce pega o ponto. Eu mudo de assunto. Pelo menos, de exemplos. Estava eu pensando na morte da formiga. Porque amassamos este ser, que não tem nada a ver com a nossa impotência, ou nossa frigidez, sem mais nem menos? (Seria mais coerente dizer ‘metemos o dedão naquele corpinho’, mas eu poderia ser mal compreendido) É uma crueldade, que acontece diante dos nossos olhos, durante os banhos, lanches da tarde e leituras matinais. Na verdade disse isto para evocar um fotógrafo (seguindo a linha editorial de publicação deste texto não revelarei o autor) magnífico que tem um trabalho maravilhoso sobre as espécies em extinção do nosso planeta. Ele nos lembrou algo que passa desapercebido na vida de muitos: não somos os únicos deste planeta! Acorda ô mané!

Óquêi, fico por aqui. Ainda falaria sobre cousas em que acredito, o problema é que eu não sei. Entende? Eu acredito, mas não sei em que. Ainda. Eu tava cansado, e não podia sonhar, agora to começando a pensar que eu to sonhando demais. Oops.


Ah! E um título pode muito bem ter nada que ver com o texto que ele nomeia. Lembrem-se disso: a escolha é tua. (será?)

domingo, janeiro 14, 2007

Os vivos no Labirinto do Fauno

Estava eu pensando com meus botões, quanto assunto não tenho para discutir aqui. Havia prometido ao meu querido Luriel Franco referências aos ataques contra a polícia paulista, e também ao assassinato de Saddam. Havia também um caso sobre andorinhas, e outro que versava sobre pequenos delírios anárquicos. Mas numa quieta noute de sexta-feira, daquelas em que só temos vontade de relaxar e nada mais, saio para uma sessão de cinema com a senhora minha mãe (eu num cinema! rá! engraçado, porém factum est!). Críamos que iríamos simplesmente passar os minutos, grande engano, foi um verdadeiro chute na nuca enquanto tomava pauladas na barriga. O filme em questão: "O labirinto do Fauno". É a história de uma menina que acredita nos seus sonhos (contos de fadas) durante a Espanha de 1944, no decorrer da resistência contra o regime franquista. Como a intenção não é contar o final do filme, mas sim tentar colocar pra fora o que senti ao vê-lo, restrinjo-me a dizer: o filme se passa entre a realidade e a fantasia, e talvez - arrisco friamente - seja uma dialética histórica entre essas duas dicotomias. Ok, chega de tanto desacato.
O filme, como já disse, foi surpreendente e deixou-me sem palavras. Creio que não conseguirei verbalizar o que pensei. Mas com certeza muitas cousas vêm à mente quando me lembro de tal película. Uma delas é a fé da mocinha, cega como um poste mesmo rodeada de tanta crueldade. Outra é a frieza do exército espanhol e a solidariedade que existe dentro desta corporação. A solidariedade dos guerrilheiros e sua não menos cruel frieza também são temas perturbadores. Há estudos sobre a simbologia da resistência e do exército espanhóis retratados no cinema e literatura. Não é minha intenção mergulhar nisto agora. Deixo isto para depois das minhas queridas prostitutas. Hoje quero só, e somente só conseguir compartilhar o sentimento passado por este filme. Uma possível leitura é que nossos sonhos, se realmente acreditamos neles, se realizam. E que no jogo da vida dependemos de nossas ações, mas também de acasos. As ações coletivas podem ir por água abaixo por conta de certa ação individual. (Ahm... aqui consigo perceber o quanto sou materialista, mesmo pra falar de acaso digo que este é produzido por nós, hominídeos. Eita, sô!) Aqui entra aquele velho conflito, será que somos aptos para sonhar? Há sonhos? É possível ainda acreditar? Duuhhh... "Passa". "Repassa". "Paga". "Vamos pagar!"...
Certo. Comecei falando de uma cousa, e quando percebo estou falando de outra, como sempre! Como citei a frieza do homem quando em guerra, porque não atravessar o Atlântico e falar um pouco sobre essa bandas? Pois sim. Ah! O Brasil! Terrinha linda de se ver. Duuhhh, será? Não vou relatar o que todos sabem através da nossa querida mídia televisiva. Mas digo que, o que nossa sociedade vêm passando (chame de guerra civil, Estado paralelo, terrorismo ou o que for!) é fruto nosso. Lembrei-me agora dos travestis na prostituição. Mas quero guardar um texto especial para eles. Bom, mas não passa de outro exemplo de como nossa maravilhosa sociedade diversificante não consegue conviver harmoniosamente com as diversidades que cria! Creio cada sociedade tem o retorno social que merece! (hummmm vou começar a cultivar isto!) E viva a nobreza doutoral!!! E nossa maravilhosa capacidade de ter medo! Agora relembro uma velha canção: "era para ser diferente, devia ser diferente, mas não se preocupe não vai ser."
Já que estávamos resenhando sobre violência, porque não falar do último assassinato mundialmente conhecido, citado mais acima? Ah! Nada como assassinar um assassino. Nada como dar a sentença de vitória para um ditador. "Vitória? Ele disse vitória?" Alguns devem estar pensando. "ELE TÁ LOUCO?!?!" Devem, outros mais desavisados, estar berrando. Sim vitória, digo eu novamente. O famigerado ditador morreu confiante de seus ideais. Seu assassinato só veio a confirmar o quanto nossa incrível capacidade de dialogar é ínfima, ah! e o quanto somos superiores e civilizados - não poderia me esquecer disso! Voltando, o homem pregou uma forma de vida durante toda sua existência, e morreu por meio dela! Olha que maravilhoso! O cara seria meu herói, se eu gostasse de heróis.
Ai, ai. Acabou que eu desviei dos caminhos, não? Talvez não. Talvez este era um caminho a seguir. Recordo, então, o tema que comecei a aprofundar. E deixo a dica: quem sabe você não consegue seguir adiante com um pedaço de giz e sua capacidade de criação? Pense nisso. Tente sobreviver ao Labirinto do Fauno para que possa vencer o governo fascista. Ou melhor: ultrapasse tuas fantasias para que possa alcançar teus objetivos materiais (palpáveis, ou reais se preferirem).
Ahm... Faltaram as crises anárquicas? Acho que não. Ah! Mas as andorinhas, sim! Sim! Mas elas são outras histórias.
Vou tentando me manter, enquanto as palavras, que são idéias, tentam se formar inteligivelmente em meu cerebelo. Enquanto isso, desculpe por erros de digitação e ortográficos.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Algum porque do endereço deste blog e experimentos



Foi difícil escolher um nome para estas pequenas comunicações com meus iguais. Pensei primeiramente em colocar “Cemitério dos Vivos”, título de um dos últimos escritos de Afonso Henriques de Lima Barreto, depois “Prazeres da Noite”, título do livro da historiadora Magareth Rago, mais tarde veio à mente o título “A morte de Ivan Ilitch” de Tolstói. Titubeei bastante antes de escolher, quis juntar os títulos, mas acabei desistindo de todos. Lembrei então de um dos meus preferidos, Bukowski. Daí veio à mente John London, da historiadora Lená Medeiros de Menezes, e de novo os escritos de Barreto. Então percebi que os indesejáveis sociais estavam sempre presentes nas minhas experiências. E rearfimei algo que sempre soube, minha identificação e auto-afirmação como um indesejável. Por isso, e por muito mais escolhi deixar algumas notas das minhas (in)certezas pessoais, e das minhas subversivas loucuras, que têm um que de vagabundagem.Esta minha desventura que é escrever irá guiar as linhas destas páginas. Portanto, aviso aos navegantes – este clichê cai bem neste caso – que meu intuito principal aqui é escrever, sem pedantismo, sem pretensões maiores do que simplesmente botar cousas para fora. Desdenhem, xinguem, contestem, e sintam-se à vontade de sentirem-se perturbados.
Appréciez vous:
Experimentalismo ácido contra dogmas da ciência.*
Dedico meus aprendizados aos que por minha vida passaram. Quantas vezes não agi de forma não consciente das conseqüências. A formação intelectual tem muito que ver com a experiência de vida que compartilhamos neste pequeno percurso que é a vida. Magoei a muitos, fiz outros poucos felizes, mas o mais forte foi o que aprendi com todos os campos das relações humanas. Aliás, relações estas que sempre foram conturbadas. Sempre tive mais facilidade com meus pensamentos solitários ou com os livros. Confesso que custei a conseguir manter relações duradouras. No sentido de me abrir e manter diálogos infinitamente profundos e simples com as pessoas. Aprendi a me abrir. Ao tentar sublimar o passado aprendi que a cada nova tentativa desta (impossível?) ação eu lembrava mais, e guardava dentro de mim as sensações, as caras e bocas, os cheiros, os pensamentos com os quais cruzei. As leituras que fiz não são comparáveis com as realidades com as quais convivi. Mas sinceramente, muitas conseguiram transpor em palavras coisas que não conseguia verbalizar. Talvez pelo fato dos autores daqueles textos terem vivido e experimentado as coisas antes da escrita. O que antes – o diálogo – era um tanto quanto superficial, agora já não o é. Fico a observar as falas, procuro escutar e dar atenção aos outros, para poder contribuir, ou não, no processo que se conforma, a comunicação.
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Eu vejo as possibilidades sublimando no ar. Mas havia tanto potencial. Porque tudo está assim? Tantos caminhos, porque cristalizar? A cada paulada desisto de desistir. E aprendo com certas palavras como erguer, mirar o sol, e caminhar. Sangrando.Aprendo com certas ações, e observo. Observo a cidade de cristal. Lapidada para sobreviver, mas dura e fria para com seus sobreviventes. Não há sonhos? Há de se ter. E talvez aí esteja um dos pontos para se desatar este complexado nó. Parecemos, porém, infectados por uma cosmologia que nos une. Seria tudo isso um vício, ou um hábito difícil de se desprender? Eu queria ser capaz de consertar nossas falhas. Mas não me reconheço capaz. Encarar os mecanismos e os processos relacionais face a face produz em mim certo distanciamento da realidade. Como se eu não me encaixasse. Mas sei que é só uma sensação. Ainda não estou no Cemitério dos Vivos, ou pelo menos acredito não estar. Penso, talvez, que já deveria estar. As reclusões poderiam servir como forma de revitalização dos sonhos.Os (i)migrantes querem cantar a noite inteira. Mas o cemitério dos vivos, construído por nós mesmos, é resistente a este canto. Ao canto dos indesejáveis. Desistir da realidade é o oposto do que queria. Permanecer e lutar, estas são as vontades, pois aqui não é nenhum asilo, ainda. Viciados, alienados, servidores, escravos, cidadãos, agem e movem a cidade. Os citadinos ainda podem controlar suas escolhas. Caminhando para o inferno ou para o paraíso, eles escolhem movimentar suas pernas cansadas e suas bundas flácidas para usufruir o que está dado, mas esquecemos, por um lapso, da nossa capacidade de criar.Nós, os indesejáveis sociais, sempre teremos que carregar os estigma de perdedores? Se lembrarmos desta capacidade criativa, e deixarmos o pessimismo geográfico, o papel social de privada (ou quintal, como preferirem) que as teses de História implementaram sobre determinados grupos e países, não.! Não mesmo. A criação é própria do ser. Não há como classificá-los por simples justificativas que analisam ora a questão financeira, ora a questão geográfica. Diferentemente do que se acredita por aí, e isso são resquícios do século XIX, senão do XVIII, vai saber, não concordo com uma Ciência que tenta estupidificar os pobres e provar com “dados empíricos” a estreita relação entre pobreza e crime. Volto a lembrar Barreto, que já em 1921 criticava essa forma de classificar e racionalizar as relações humanas e duvidava da tese sobre a herança criminal criada e defendida pelos intelectuais da época. Mas creio que caminhei para uma outra, e longa, discussão. Deixo para uma outra hora divagações mais profundas. Mas antes devo lembrar-vos: Criem! Imaginem! Inventem! Transformem! Todos somos capazes.
* Título inspirado na expressão de Luriel também conhecido como Luís Amâncio: “acidez experimental”. Para saber mais sobre o autor da minha inspiração veja: http://wwsuicide.uniblog.com.br. Veja também: http://www.superchapolin.blogspot.com/ de Mendes Menezes e http://www.rawl-rawl.blogspot.com/ de Mawral para inspirações de minhas perturbações foto e fonográficas.