Estava pensando nas tradições. Certo dia ouvi esta máxima: “forte como uma peroba e livre como um vento”. Corri atrás de sua autoria. Picchia. Mas só para constar, porque não estou dando a mínima para análises profundas agora. O cara veio de uma tradicional família paulistana e, como todo bom literato foi tudo, político, jornalista, banqueiro, advogado e todas essas profissões que envolvem a palavra. Daí botei o Teco para funcionar e ele me informou como a tal da tradição é importante para a formação das vidas das pessoas. Aquela pequena frase pode ter levado milhares de brasileiros (só porque nasceram neste território) a se pensar enquanto tais.
Relativizando minha fala: a frase solta pode fazer sentido em vários aspectos, mas no corpo do seu texto original ela faz alusão ao caboclo, que um dia, por desejo dos pais, será doutor. Agora sim faz um pouco de sentido a frase acima. Isso mesmo, pouco. Se pensarmos a palavra doutor hoje, veremos que ela se assemelha um pouco do sentido de outrora. Talvez naquele momento o doutor poderia significar ter cargo público e tudo mais, bem como o título das famigeradas “Faculdades”. Hoje sabemos que é o título doutoral é dado a quem o defende. Porém ainda vemos por aí pessoas sendo chamadas de doutor sem ao menos ter cursado a graduação, ou somente passou por ela. É o caso dos médicos, advogados, juízes, mas também dos deputados, senadores e outros “ilustrados”.
Sim, a duração é longa. E a república continua dos doutores. Um grande exemplo de tradição firmada pelos “construtores da nação”, que pelo visto está se reformando desde seu início. Processo lento, gradual e seguro. Seguro à nação. Mas cá pra nós, o que é esta nação. Ou melhor, quem é ela? Ah, eu me canso de pensar nesses termos. Já estamos cansados de ouvir minhas reclamações sobre isso. Estamos, porque concordo com todos vocês quanto às minhas reclamações chatas e inoportunas. Mas se eu não puder ser inoportuno, simplesmente REproduzirei tudo, como antes, ou seguindo este tempo. Tempo sombrio, tempo límpido. Ambivalente ou contraditório, escolha suas palavras, suas idéias.
Ao negar tudo estaríamos simplesmente fugindo? Ou colocando os pés em nossas próprias vísceras e infectando nossa organização vital? Mudança de comportamento, ou facilidade diante dos problemas? Negar quer dizer destruir? Não somente. Será que ao destruir não estaremos instruindo, construindo algo? Limitados e castrados pelas idéias, somos ao mesmo tempo capazes de fomentar, através delas, vidas novas. Ás vezes penso: Será que não estamos na tradição da mudança? Mas esta mudança é, para nós, sinônimo de alternância de governos. Ai, se os cientistas políticos tivessem acesso a isto.
Voltemos, então, ao princípio. A contravenção muitas vezes mantém em suas supostas radicais transformações, ranços do tradicional. Vide as feministas do final do XIX e do início do XX no Brasil, ou ainda o governo Stálin. Esses processos carregaram em si muito daquilo que negavam, até mesmo como forma de se auto-afirmar e de suportar suas plataformas, se é que podemos falar disso no primeiro caso. Enfim, as tradições também são importantes nesses processos. Quantas divagações para nada. Inventei a roda! Ah. Às vezes eu gosto de ser óbvio. Ou de perceber que o sou depois que estou preste a terminar um texto.
Ao iniciar este pequeno processo, que chega ao seu limite, a intenção era dizer sobre a importância da tradição nas vidas das pessoas, e acabei, como sempre e isto está virando moda, desvencilhando outros incômodos. Mas retomo o início. É fácil observar como a tradição é importante para nós. Na meio rural, nas cidades, na vida social, no trabalho em qualquer lugar, as crenças, mitos, hierarquias que construímos são feitas em favor da lógica do processo de sociabilidade. Sem elas fica difícil de imaginar algo em funcionamento. Quem diria, eu dizendo isto. Porém com isto não estou dizendo que abandonei os pensamentos líricos e libertários, pelo contrário, estou assumindo que neste pensamento tudo acima enumerado é também de suma importância para a harmonia buscada, mas claro com níveis e funcionamento totalmente distinto do que estamos acostumados a pensar, viver. Veja a tradição oral. Ela é importantíssima para os trabalhos agrários, para os ofícios manuais, para os ofícios intelectuais e até mesmo para a cultura anarquista.
Depois de defender meu cu do ataques de nabas voadoras retorno, novamente. A tradição da peroba, forte e imbatível se sustenta mesmo com refutações dessas idéias por cientistas (doutores) que afirmam sobre sua falsa resistência às intempéries. Sua força é tamanha que ultrapassa gerações e forma seus indivíduos-coletivos. É essa tradição que é capaz de formar, ao mesmo tempo, um novo Abílio Diniz ou Oswald Andrade, ou Prestes, ou Cecília Meirelles, ou Rainha Vitória ou o José, ou a Antônia, ou a prostituta Maria, ou o padeiro Manoel, ou a costureira Josefina, ou você ou eu ou ad infinitum.
Quanta miscelânea. Quanta confusão. Quanto sobrecarga. Quanto lengalenga.
Agora, para fechar, me diga por que não podemos ficar?
Diante do nonsense do mundo por que preciso explicar esta postagem?
O mundo continua dormindo...
Trechos que me incomodam:
"And tomorrow we'll take aim, just like a storm waiting for a calm. I can feel everything coming in my chest, my heart's already pounding, my head's on far-off highways, sixteen years old, on a road that never ends. Might drive into something that looks like a sunset, and it lasts forever, and i never look back"
(...)
"We move in 4/4 time. Our feet on wheels and in the sky. Yes we're going cause we'd die if we stayed here. And those dying dreams will carry what's good, and real, and pure. And the rest can burn in hell"
(...)
"Every shortcoming has trapped us, every mistake is now our own infinite failure. So we steal every chance we get. Every advantage is taken when no one's looking. We hide behind closed doors. And we don't stop until we are the people we've decided we should be. I wanna be a shot heard round the world, fucking unstoppable. This distance is not something we'll regret from here, and now, and today, and forever, and days after that till the very end."
2 comentários:
(In)Felizmente eu e você somos parte de uma tradição. Mas a república dos doutores (que talvez seja nosso futuro, acima do que já é presente) poderia ter findado quando o metalúrgico subiu a rampa. Foda. Ele foi junto com a oligarquia doutoral-rural. Não gosto de lembrar dos textos do Lima Barreto pq depois de cem anos o país mudou muito pouco. E sabe lá o que me incomoda nisso? Não é pq sou brasileiro, nacionalista, mineiro, TFM ou "doutorzinho". Não gosto de "país" ou de "nação". Já discutimos isso. Na verdade, me maltrata o esforço que milhões de pessoas fazem por sobrevivência. E por nada.
por nada
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