Foi difícil escolher um nome para estas pequenas comunicações com meus iguais. Pensei primeiramente em colocar “Cemitério dos Vivos”, título de um dos últimos escritos de Afonso Henriques de Lima Barreto, depois “Prazeres da Noite”, título do livro da historiadora Magareth Rago, mais tarde veio à mente o título “A morte de Ivan Ilitch” de Tolstói. Titubeei bastante antes de escolher, quis juntar os títulos, mas acabei desistindo de todos. Lembrei então de um dos meus preferidos, Bukowski. Daí veio à mente John London, da historiadora Lená Medeiros de Menezes, e de novo os escritos de Barreto. Então percebi que os indesejáveis sociais estavam sempre presentes nas minhas experiências. E rearfimei algo que sempre soube, minha identificação e auto-afirmação como um indesejável. Por isso, e por muito mais escolhi deixar algumas notas das minhas (in)certezas pessoais, e das minhas subversivas loucuras, que têm um que de vagabundagem.Esta minha desventura que é escrever irá guiar as linhas destas páginas. Portanto, aviso aos navegantes – este clichê cai bem neste caso – que meu intuito principal aqui é escrever, sem pedantismo, sem pretensões maiores do que simplesmente botar cousas para fora. Desdenhem, xinguem, contestem, e sintam-se à vontade de sentirem-se perturbados.
Appréciez vous:
Experimentalismo ácido contra dogmas da ciência.*
Dedico meus aprendizados aos que por minha vida passaram. Quantas vezes não agi de forma não consciente das conseqüências. A formação intelectual tem muito que ver com a experiência de vida que compartilhamos neste pequeno percurso que é a vida. Magoei a muitos, fiz outros poucos felizes, mas o mais forte foi o que aprendi com todos os campos das relações humanas. Aliás, relações estas que sempre foram conturbadas. Sempre tive mais facilidade com meus pensamentos solitários ou com os livros. Confesso que custei a conseguir manter relações duradouras. No sentido de me abrir e manter diálogos infinitamente profundos e simples com as pessoas. Aprendi a me abrir. Ao tentar sublimar o passado aprendi que a cada nova tentativa desta (impossível?) ação eu lembrava mais, e guardava dentro de mim as sensações, as caras e bocas, os cheiros, os pensamentos com os quais cruzei. As leituras que fiz não são comparáveis com as realidades com as quais convivi. Mas sinceramente, muitas conseguiram transpor em palavras coisas que não conseguia verbalizar. Talvez pelo fato dos autores daqueles textos terem vivido e experimentado as coisas antes da escrita. O que antes – o diálogo – era um tanto quanto superficial, agora já não o é. Fico a observar as falas, procuro escutar e dar atenção aos outros, para poder contribuir, ou não, no processo que se conforma, a comunicação.
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Eu vejo as possibilidades sublimando no ar. Mas havia tanto potencial. Porque tudo está assim? Tantos caminhos, porque cristalizar? A cada paulada desisto de desistir. E aprendo com certas palavras como erguer, mirar o sol, e caminhar. Sangrando.Aprendo com certas ações, e observo. Observo a cidade de cristal. Lapidada para sobreviver, mas dura e fria para com seus sobreviventes. Não há sonhos? Há de se ter. E talvez aí esteja um dos pontos para se desatar este complexado nó. Parecemos, porém, infectados por uma cosmologia que nos une. Seria tudo isso um vício, ou um hábito difícil de se desprender? Eu queria ser capaz de consertar nossas falhas. Mas não me reconheço capaz. Encarar os mecanismos e os processos relacionais face a face produz em mim certo distanciamento da realidade. Como se eu não me encaixasse. Mas sei que é só uma sensação. Ainda não estou no Cemitério dos Vivos, ou pelo menos acredito não estar. Penso, talvez, que já deveria estar. As reclusões poderiam servir como forma de revitalização dos sonhos.Os (i)migrantes querem cantar a noite inteira. Mas o cemitério dos vivos, construído por nós mesmos, é resistente a este canto. Ao canto dos indesejáveis. Desistir da realidade é o oposto do que queria. Permanecer e lutar, estas são as vontades, pois aqui não é nenhum asilo, ainda. Viciados, alienados, servidores, escravos, cidadãos, agem e movem a cidade. Os citadinos ainda podem controlar suas escolhas. Caminhando para o inferno ou para o paraíso, eles escolhem movimentar suas pernas cansadas e suas bundas flácidas para usufruir o que está dado, mas esquecemos, por um lapso, da nossa capacidade de criar.Nós, os indesejáveis sociais, sempre teremos que carregar os estigma de perdedores? Se lembrarmos desta capacidade criativa, e deixarmos o pessimismo geográfico, o papel social de privada (ou quintal, como preferirem) que as teses de História implementaram sobre determinados grupos e países, não.! Não mesmo. A criação é própria do ser. Não há como classificá-los por simples justificativas que analisam ora a questão financeira, ora a questão geográfica. Diferentemente do que se acredita por aí, e isso são resquícios do século XIX, senão do XVIII, vai saber, não concordo com uma Ciência que tenta estupidificar os pobres e provar com “dados empíricos” a estreita relação entre pobreza e crime. Volto a lembrar Barreto, que já em 1921 criticava essa forma de classificar e racionalizar as relações humanas e duvidava da tese sobre a herança criminal criada e defendida pelos intelectuais da época. Mas creio que caminhei para uma outra, e longa, discussão. Deixo para uma outra hora divagações mais profundas. Mas antes devo lembrar-vos: Criem! Imaginem! Inventem! Transformem! Todos somos capazes.
* Título inspirado na expressão de Luriel também conhecido como Luís Amâncio: “acidez experimental”. Para saber mais sobre o autor da minha inspiração veja: http://wwsuicide.uniblog.com.br. Veja também: http://www.superchapolin.blogspot.com/ de Mendes Menezes e http://www.rawl-rawl.blogspot.com/ de Mawral para inspirações de minhas perturbações foto e fonográficas.
4 comentários:
Perturbem! É isso aí velho... fazer mover... modificar...
Em cada um de nós, um universo em potencial... Explosões, colisões, movimentos - uma harmonia do caos, que muitas vezes preferimos silenciar. Não! É bobeira marchar como soldados guiados por um comandante invisível, rumo ao abismo. Há de se fazer algo!
Vida longa ao "Cemitério dos Vivos"! Da minha lápide, eu escuto a chuva cair, cachorros e pessoas (seriam eles os mesmos?) pela noite. É bom ler escritos seus, Barrão!
Abraço
O que a língua sente
mas não sabe dizer.
Quero me solidarizar aos seus escritos - quero entrar nesse sub-verso, submundo.
Lembro-me ainda de ter dito à minha moça: caminhar, assim todos deveriam fazer - por ser digno, com as próprias pernas, sincero e até ingênuo.
Espero ansioso a inspiração para derramar no Rawl, mas dessa vez sem muletas.
Caminhar.
Vida longa aos Vivos do Cemitério!
Abraço!
Vida longa!
Porra, quanta receptividade.
rawl, você é parte deste sub-verso, você é parte de todo o verso. Todos vocês. Todos nós.
caminhar! still honest!
há de se fazer!
beijos beijos.
Sempre lembro desta pequena idéia(mesmo não sendo exatamente assim.):
"quem era ele? Ele é sua mãe, seu pai. Uma menina, um menino, o policial e o padeiro. Sou eu. É você!"
E desta também:
"and we don't stop until
we are the people we've decided we should be"
Vida longa!
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