quarta-feira, novembro 21, 2007

As cores são andróginas, vermelho é vermelha. mas não há conflito de gênero: ele só aparece quando relacionamos as cores com os sujeitos e objetos.

ela estava caminhando
na avenida movimentada
quando transformou-se em
vermelho.
logo ali
no corredor de ônibus.
transformou-se em vermelho.
ela ia tranqüila e atordoada,
e transformou-se em
vermelho.
num segundo ela era
todo o vermelho que
se via na avenida.
no asfalto quente,
em rostos boquiabertos,
em pára-brisas,
em um motor, em rodas.
agora ela era feita ora
de uma pasta vermelha ora
de um líquido vermelho.
ela se espalhou pela cidade,
oxidou-se em postes metálicos,
misturou-se com secreções oculares,
infiltrou-se nas águas do esgoto, quando a água jorrou
no asfalto.
o primeiro que ficou feliz foi
o cachorro que degustou um pouco daquela pasta
vermelha em que ela havia se transformado.
em pouco tempo, ela estava circulando pela cidade
nos bicos das pombas, nas línguas dos cães, nos olhos dos velhos.
ela estava lá caminhando e
transformou-se em vermelho.

4 comentários:

Anônimo disse...

Belo.

l. f. amancio disse...

Tem uma música de que gosto muito que chama "Red is a slow colour"...
Belo texto/ poema! Toda imagem que pensamos, ainda mais suscitada por uma leitura, fica mais bonita se tiver o vermelho.
Abraço!

Anônimo disse...

Maurawl disse:


I see a red door and I want to paint it black...

Alexei Fausto disse...

Vermelho.

Nada poderia ser mais singelo e belo.

Só se pode ser ao sofrer.

Será um dia uma possibilidade?