se borges disse que deveria ter escrito mais, eu preciso dizer que eu preciso escrever. essa atividade estranha que consome energias dos dedos nas pequenas teclas, dos olhos frente à tela branca, do cérebro e suas orientações. corpo e alma, juntos como sempre, numa luta para fazer crescer algumas linhas, alguns resquícios de pensamento, sempre mais velozes que os dedos. a tendência é aproximar as velocidades, mas isso não acontece. escrever é um ato coletivo: uma vez que nunca estamos sós no mundo, ao escrever estamos dialogando com partes desse mundo, mesmo que essa parte seja integrante de nós mesmos. isso não leva a concluir que estamos criando uma única e universal obra coletiva, absolutamente. mas que nossa percepção é relacional, que nossas ações são relacionais, que nada se cria sem referência. o que não quer dizer, tampouco, que não criamos coisas novas. mas sim que o novo não é uma coisa sagrada e tão melhor que aquilo que já existe, e, no caminho inverso, que o existente não é tão importante assim a ponto de ter necessariamente que continuar a existir. que essas criações são autônomas, mas também coletivas. que a ação do autor se exerce num emaranhado de outras ações - pessoais e coletivas. na tela branca, sinônimo, ao mesmo tempo, de limitações e infinitas possibilidades, o autor desenvolve um ambíguo produto: da mesma forma que constrói um diálogo, o autor escreve um monólogo. é uma conversa consigo mesmo.
quarta-feira, julho 08, 2009
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