sábado, setembro 22, 2007

o fim da noite

oh!
e já não há mais tantas forças.
o estômago dói. o intestino não funciona.
a gengiva sangra. a coluna dolorida e torta.
o joelho moído. os olhos ardendo.
e o cérebro continua sempre dando defeitos. talvez agora mais doentios.

o fim

sexta-feira, setembro 21, 2007

eu acho que eu já tive um amor...

"tive sim, outro grande amor antes do teu, tive sim.
o que ela sonhava era os meus sonhos e assim íamos vivendo em paz.
nosso lar
em nosso lar sempre houve alegria.
e eu vivi tão contente.
como contente ao teu lado estou.
tive sim, mas comparar com o teu amor, seria o fim.
então vou calar.
pois não pretendo, amor, te magoar.
pois não pretendo, amor, te magoar."
o amor está em mim. como não poderia estar? podendo. mas ele inexplicavelmente está em mim. e inexplicavelmente ele é uma construção coletiva. logo ele pode ser o mesmo sentimento que você, do outro lado desta rede de relações, sente. mas ele pode ser algo incompreensível para quem não mais está envolvido em uma rede de relações. ele pode ser vivido por uma pessoa só, por duas, ou por várias. ele pode ser esperado por uns, entendido por outros ou incessantemente buscado por mais outros. ele pode também simplesmente não ser inteligível para muitos. e passar desapercebido. eu amo. não sei explicar como. eu amo e sou capaz de não mais procurar quem eu amo, caso a pessoa esteja precisando de estar só. eu amo e sou capaz de remoer amores passados. eu amo e sou capaz de não mais me dedicar a nada. eu amo e sou capaz de escolher a vida e continuar aporrinhado este mundo ao invés de me matar. há muito tempo eu preferi a tolice de viver. desde então eu perturbo o mundo com as várias maneiras de pensar o próprio mundo. não sou capaz de amar todo mundo deste mundo. mas sou capaz de tratar aquilo que eu odeio com um abraço, com um afeto. justamente para corromper as escolhas "naturais" de nossas sociedades. também posso cuspir em pratos depois que a refeição terminou. sim, nunca disse que não sou estúpido. mas isso é outro caso. ou "caos" aqui é outro. (é caos mesmo) amores podem surgir de um aperto de mão. ou só depois de anos de convivência. mas há amores e amores. há tempos que não participo da construção de amores. eu presenciei realizações amorosas, como a participação política de estudantes na universidade. mas não participei dessa realização. senti um amor grande por algumas pessoas libertárias, mas não criei nenhuma espécie de amor entre nós. logo podemos amar, sem nos relacionar também. eu não vou chegar ao ponto de amar nenhum bush, ou fidel. os amores também têm limites. mas será que eles não são amados por ninguém? eu até gostaria que não. mas eles são seres humanos que construíram suas relações ao longo de suas vidas. e em algum momento deve ter havido amor. fidel em suas lutas e bush... er... e bush... e bush quando sua mãe o pariu. ah... o amor é uma construção, como já disse. logo o que é amor para alguém que vive o dia inteiro sob pressão de ser atacado por um policial durante toda madrugada é diferente do amor para alguém que vive no conforto de seu apartamento amparado por um copo de leite quente que a mamãe preparou. será que nós nos amamos realmente? bom, eu já fugi do intuito inicial, então fico por aqui. em pedaços. talvez esses pedaços possam ser completos.

o medo de perder o medo

outro dia estava eu cortando caminho pelo parque farroupilha. o parque da República. de bancos de fins do século XIX. de sociabilidade da burguesia emergente sulriograndense. com passarelas sobre um pequeno lago, hoje sujo e fétido. com árvores que te fazem esquecer o gosto do ar urbano. o melhor adjetivo para ele hoje seria democrático. mas na verdade ele nasceu republicano. e sua suposta democracia só mata a fome da alma "popular" em dias de domingo e feriados. principalmente nos que têm passe-livre para toda população. sim. passe-livre. quanta democracia. pois bem. estava eu esquecido do trânsito urbano. perdido em meio ao som quase provinciano do parque até que fui surpreendido por um corredor que vinha logo atrás de mim. o senhor estava simplesmente tentando, em seu tempo livre, curar o coração de suas gorduras ingeridas ao longo de sua vida de gaúcho. ou exercitando seu pulmão podre de 20 anos de acondicionamento de nicotina. ou sei lá o que. o que interessa, e isso sim é instigante, é que eu me virei assustado e tenso. talvez pensando que estava sendo abordado por um possível corpo que escolheu a via do liberalismo cotidiano da urbe: saques e motins. sim. era isso. esqueçam o talvez. o homem chegou a pedir desculpas, sem parar sua corrida pela recuperação de sua saúde. ele percebeu claramente minha feição de tensão. refletindo sobre o ocorrido percebi o quanto vivemos sob tensão. todo o tempo. estava eu em um parque, cortando caminho para chegar em minha passagem de porto alegre. e me dou conta do quanto o mundo moderno (muitos diriam com a boca cheia: pós-moderno, seu “out”!) nos deixa tensos. e a tensão vem de todos os lados. desde a televisão até na literatura. sim. até nesta tão gostosa fuga. tensão em kundera, tensão em bukowski. não é a boa tensão. aquela sobre a qual realizamos nossas práticas cotidianas e que nos faz mover. mas a tensão no sentido de fobia. de medo. medo das ruas. medo da sombra que vem logo atrás de você. sentimento criado. porém sentimento sentido. vivido. chegam a criar até mesmo uma instituição para afastar esse medo. por isso não é de se assustar que a polícia declare que já fez por volta de 40 mil detenções e que espera chegar aos 70 batendo o número do ano passado. e deixando como eles disseram todas as famílias tranqüilas. porque as famílias têm medo. e deixar sua liberdade de ir e vir sob a guarda da brigada militar. ainda sou totalmente contra a instituição da polícia. mas me vi inserido por instantes na prática social que este mundo nos ensinou. pelo menos em parte dela, a do medo. e nossa sociedade parece ter medo de perder o medo. porque desaprendemos a viver sem a polícia. porque ela parece algo que está na ordem natural das coisas.
vivendo na utopia de perder o medo e encarar todos como senhores de seus destinos posso até me deparar com uma alma que esteja a ponto de agir segundo a ordem que o medo neoliberal nos ensinou. mas aí é outra história. porque tudo pode acontecer. e eu prefiro romper com o medo urbano.
uma pessoa que vive de sonhos. e sonhos envelhecem... ah, como envelhecem! ou foi só a alma amargurada que envelheceu durante sua vil existência? não sei, talvez no futuro alguém dirá: "um gordo que procurou viver..." triste, mas passível de ser verdadeiro.
enquanto espero não ser como eles, não tenho tanta certeza de que não sou.