e foi assim que ela saiu. sem olhar para trás, sem dizer nada, sem demonstrar que existiria um próximo encontro. afinal, não havia mais nada para dizer. já não fazia diferença nenhuma dizer ou não dizer. era como se já tivesse dito tudo, ao não dizer nada. nem aquele olhar tagarela que ela lançava, nem um discurso verborrágico que seu corpo costumava enunciar. nada. não havia nada para ser dito e nada foi dito. ficamos lá esperando o sereno da noite chegar ou alguma boa desculpa para nos tirar do lugar e para nos mover um pouco. havíamos desistido de qualquer coisa há tempos e as pessoas cansavam-se disso. queríamos ter o direito de desistir. e foi o que fizemos. mas depois ela desistiu de desistir. não havia o que dizer para seguir adiante. o recomeço era algo muito mais doloroso do que a viagem que fizemos para abandonar tudo. mas tudo já havia sido dito sobre isso. o exercício do silêncio nos fez dizer tudo sobre tudo. e talvez isso tenha feito ela desistir de desistir e desejar voltar ao desenrolar cotidiano de sua antiga vida. mas ela já não era a mesma, nem aquela que ainda não queria desistir da sua vida normal, nem aquela que resistiu e abriu outros caminhos para sua vida, desistindo de tudo. ao desistir de desistir, ela lutou contra seu pior inimigo: contra si própria. ela teve de se matar para poder viver outra vez, de outra forma. e foi assim que ela simplesmente saiu.
sábado, maio 07, 2011
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