sábado, dezembro 19, 2009
terça-feira, dezembro 08, 2009
"meu corpo, esse papel, esse fogo", essa água.
hoje choveu de novo. mas eu não estava em neves. choveu muito, mas era no meu sonho. e sandman não apareceu. estava só, com a água tocando meu rosto. e subitamente o mundo se encheu de vidas. me vi envolto a inúmeras árvores. fui trilhando um caminho que me conduziu à uma casa de campo. daqueles pequenos palacetes monumentais no meio de uma campanha. aproximei e entrei. no meio da casa estava lá, um homem sentado com seu robe de chambre, seu papel na mão e o fogo da lareira movimentando seu sangue, meditando. percebi que havia me envolvido no jogo dos limiares da razão e desrazão. camus lá apareceu e cuspiu no papel daquele homem esquálido. e segurou-o pela gola, dizendo que não tinha nada em suas mãos. logo vi que o jogo se complicara e que o real se confundia com o sonho, justamente através da dinâmica do absurdo. não quis jogar o jogo e logo percebi que um queria desautorizar o outro. mas foi em vão perceber isso. camus não queria desautorizá-lo. ele simplesmente o fez. sua intenção era ser a própria normalidade de sua existência. vi xamãs, filósofos, clérigos, ateus e cientistas. todos em busca da resposta à mesma pergunta: 'qual o sentido?' e todas as respostas eram iguais. todos estavam lidando com a mesma vontade de existir. e pensei o quanto era estúpida essa pergunta que vem conduzindo esses seres mutantes que se denominam humanos, já milênios. estava cansado e vi Sócrates sorrindo no mesmo instante que uma pedra acertou seu olho. seu sorriso de monalisa estava lá e davinci piscou pra mim antes de sumir. tudo estava ficando claro quando alcibiades me disse que sócrates queria homenagear as mulheres que foram apedrejadas sorrindo e gargalhando. disse indignado à alcibiades que sócrates havia tomado veneno. ele me olhou advertindo que isso era o que estava nos registros escritos. disse e partiu em busca de si próprio para governar a cidade. olhei para o lado e virgínia com seu ar sério parecia compreender tudo e me disse que eu já sabia de tudo mas não conseguia aceitar que sabia. ela correu para o rio ouse e não mais a vi por ali. o homem do robe de chambre estava lá ainda e havia outros seres com ele, fazendo fila para duelar pela subjetividade moderna. lembrei que a pergunta era estúpida! e a seriedade de virgínia voltou a aparecer pra mim. compreendi que não queria compreender nada disso. beijei o homem de robe de chambre escrevi alguma coisa em suas folhas de anotações. ele não conseguiu ler, não fora educado para compreender o que estava ali. entrei na lareira e meu corpo, esse papel, voltou a ser fogo. descartes olhou para a folha rasurada e a atirou à lareira. mas o papel ficou ali. e ainda era possível ler claramente a pequena frase, que fez alguns digladiadores sorrirem: "não caiam de amores pelo poder". eles deram as costas para descartes e sairam. a água do ouse encontrou-me na lareira envolvendo tudo que existia. de repente era só água. e a chuva continuava caindo.
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