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quarta-feira, novembro 25, 2009
sexta-feira, novembro 06, 2009
protoquixote na metrópole
é engraçado... ver aquele menino frágil encarando o mundo. é engraçado. quando sai cedo de casa com poucos dinheiros no bolso e volta tarde com muitas dores e fadigas, dorme até às oito do dia seguinte, perdendo um dos compromissos semanais. ele fica atordoado. com a cabeça cheia de redemoinhos. custa a entender o que está fazendo no momento em que acorda. se ele toma o café quente, vem a vontade e logo libera o pouco do bolo que seu corpo faz para boiar nos rios mundo afora. mas nada é tão certo, nada está numa ordem padrão e prontamente verificável. a cada dormida é um pedaço de sua memória que quer morrer. e se não há luta, se ele não levanta e começa o dia, a maioria morre. claro que a maioria já morre normalmente. mas aquelas que sempre nos acompanham diariamente se perdem facilmente quando ele fica ali, preso em si mesmo, vivendo em suas fantasias. o fato dele começar o dia faz com que ele entre em contato de novo com o mundo, com as coisas que ele já viu, ja fez, e assim, as memórias vão voltando e chegam a formar um êxtase mimético-temporal no fim do dia... mas aí já é tarde demais e ele quer dormir, de novo. ele já pensou em gravar 24 horas de sua vida e depois editar, mas concluiu que não daria tempo de editar... o tempo é a criança que brinca no quintal, modificando-o. o quintal é a memória que também modifica a criança, inscrevendo-se no tempo. o quintal e a criança daquele menino sofre violentas modificações diárias. no fim, acaba que eles ficam muito parecidos do que eram no começo do dia, mas o processo de transformação não pode ser ignorado. ele parece mudar para permanecer o mesmo. quanta violência ele produz em si mesmo. parece que ele poderia explodir sua própria cabeça com esses movimentos de transformação. e talvez por isso o garoto fique tão cansado. com tanta informação para "processar", seu quintal, por vezes, fica parecendo um ferro velho com montanhas de crianças sobrepostas. talvez ele precisa de um empurrãozinho, de alguém que lhe mostre outras possibilidades de tratamento das informações. ao invés de processar, talvez ele precise dar vazão às informações de acordo com seus sentimentos. ora, ele não percebe, ainda, que o que importa das coisas é o que elas fazem em nós mesmos e o que fazemos nelas, com elas. se as informações nos tocam, nos misturamos a elas, nos encontramos e nos transformamos. se não nos tocam, deixamos que passem, que continuem sua jornada. mas ele não sabe isso. ele sabe outras coisas. ele sabe que se ele deixar passar uma informação sequer, ele irá sofrer muito por isso. porque ele sabe que as informações fazem parte dele e ele delas. mas isso o deixa nesse impasse atordoante. mas isso não é triste. isso é engraçado...
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