segunda-feira, agosto 03, 2009

crônica de BH ou reflexão ética do meu cotidiano na sociedade dos automóveis

aos leitores ávidos deste blog, peço desculpas pela pequena pausa de dois dias. mas aqui estou de volta para mostrar à vocês, não minha escrita magnífica, não minhas idéias estupendas, nem minhas teses sublimes, mas sim o que vocês leitores querem: o reconhecimento de uma coletividade. eis que aqui estou a escrever sobre a crônica cotidiânica nesta cidade galvânica. cidade que me fez descer do ônibus e olhar para um aparelho de som antigo com toca disco – hoje, falar da tecnologia de meados da década de 1990 é falar de antigo. achei o som caro, apesar de não estar caro. interessante é que não comprei o aparelho, mas, nas duas últimas semanas gastei quase metade do preço do som em livros. talvez seja a hora de parar de gastar em livros e passar a gastar em música, mas os aparelhos de tocar disco ficaram muito caros! os vendedores conhecem os cidadãos modernos que esta cidade possui e sabe que os modernos gostam mesmo é de vinil. não comprei o som e continuo sem escutar meus LP's. cRássicos como Brasil do RDP e a coletânea Plunct, Plact Zuuum. de Van Halen aos Trapalhões. de Mukeka di Rato ao metal dos anos 80. todos estão ali, no canto direito superior da minha estante, esperando pelo júbilo da próxima rotação. cidade que me faz lutar com os veículos motorizados durante minhas caminhadas, e me faz andar meros 30 minutos, de ônibus, da minha casa à universidade. um belo exemplo do progresso! progresso, esse, que faz propaganda das melhorias da avenida com a foto de uma criança. um belo exemplo de pedofilia institucional. um belo circo dos horrores: onde se divertem 'trabalhadores' e 'vagabundos' vendo máquinas atuarem nesse belo enredo chamado modernidade. máquinas dirigidas por seres humanos, claro. mas no espetáculo, é a máquina que toma a cena: cortando árvores centenárias e arquiteturas menos importantes. no final do espetáculo a cena é tomada pelo joão-bobo da vez, abraçando idosas felizes e beijando crianças catarrentas. os antigos gostam de beijos dos senhores taumaturgos, com cara de palhaço, e os modernos sabem disso, levando o pogResso para o povo. cidade que me faz ficar com medo de uma tosse, mas ao mesmo tempo tranquilo, já que o calor não propicia a disseminação do vírus de forma tão avassaladora: mas morre-se de gripe, afinal! seja suína ou do porco humano. os modernos gostam mesmo é de se comunicar e a onda forte dessa praia é fazer do mundo um imenso caos, que precisa da modernidade para se salvar. cidade que me fez amar e odiar, desejar e sexualizar situações, que me fez perceber o corpo e o prazer. o corpo como não lugar, o utópico, como um lugar ainda por se escrever e, mesmo com o biopoder, um espaço aberto para a fazer da vida uma obra de arte. o prazer como balizador do exercício ético da minha existência. os modernos gostam mais é de achar que são reprimidos, mas são mesmos é produtores de inúmeros plásticos e produtos virtuais, criados graças ao silício, capazes de satisfazer suas supostas fantasias reprimidas. eis que, mesmo que os leitores sequiosos não tenham sentido empatia, ou identificado nenhum traço de coletividade – e talvez por isso mesmo – termino esta crônica cotidiânica com a sensação de ter contribuído com meu desenvolvimento interior: o que poderá transformar minha relação com vocês, meus caros e infindáveis leitores. E, ainda, com a alegria de poder contribuir com uma hipótese do Pedro, que inspirou-me ultimamente: o alfredinho tava mais preocupado em construir um projeto para a nação, e construí-la, consequentemente, do que em falar a verdadeira verdade sobre BH - a verdade, e a luta por torná-la verdade, seria um mero artifício para construir (um)a república, a república dos bruzundangas, talvez.