hey, eu vou dizer o que eu penso.
mas não pedi sua opinião, jorge.
direi mesmo assim. eu acho isso tudo uma bela merda. uma bela montanha de merda mole.
droga, meu cigarro apagou e eu tenho que ficar te ouvindo dizer besteiras, jorge!
é sério, cara! toda essa baboseira de esperança de um mundo melhor com um presidente negro. o porra do cara é presidente, cê entendeu? presidente. que porra vai mudar, cara?
jorge, as coisas não são assim, as pessoas precisam dessa merda toda. senão, como elas vão sair à noite para pagar pra caras e mulheres lhes darem aquela chupada, que seus maridos e esposas não podem dar?
você é um estúpido, cara! ninguém precisa de presidente nenhum. nem de chupada gostosa. essa merda toda é uma bela sacanagem sustentada por seu alcoolismo.
eu não coloco sua mãe no meio, então respeite minha relação com o álcool, jorge.
ok, tu fica aí enchendo a cabeça de cachaça, enquanto teus filhos comem carangueiros podres que se alimentam da merda produzida na cidade. enquanto eu fico aqui, provando para o mundo que eu não preciso de presidente de porra nenhuma.
jorge, tu tá berrando no meu ouvido! eu tô do teu lado, sacana!
isso! fica fazendo posinha de delicado, seu merda!
caralho, jorge, a rua inteira tá querendo te dar um sopapo!
eu pego é todo mundo no bondage, cara! faço uns enemas e tá limpo!
não comece com suas coisas de tortura!
tortura? porra, os cara te fazem pagar um imposto sobre a tua casa, uma invenção mais idiota e antiga, e tu vem falar que gozar com um pouco de sangue é tortura? tu trabalha como a velha a fiar, sem parar para pensar no que fazes de ti, e dar umazinha que é tortura?
não irrita, jorge, eu tô sem saco, hoje!
porra! tu tá nessa de virar eunuco e nem me chama pra festa?! sacanagem, cara!
jorge, eu te soco hoje!
tu tem que parar de ser um cagalhão. tu fica aí sentado, sem fazer nada, enchendo a cara.
ah, vá se fuder!
é sério, cara! eu mesmo tô aí, tô aqui, tô até na internet! eu faço é muita coisa, cara! fico limpando cadeira com o cu, não.! vou pra luta é armado de palavras.
como que é isso?
bom, os caras começam a me bater e eu fico lá recitando Fernando Pessoa. os cara param de me bater para ouvir os poemas do cara. pô Fernando Pessoa é o cara!
e tu lá sabe um poema de Fernando Pessoa?
saber eu não sei não, mas decorei um, quer ver? : "eu sô é nada, nunca vô sê é nada, não posso querer sê é nada. da parte disso, tenho todo sonho do mundo. Hoje eu tô abobado, como que pensei e achei e esqueci. hoje eu tô é dividido entre a lealdade que devo à tabacaria da esquina, como coisa que é real de fora, e ao sentimendo de que tudo é sonho, como coisa que é real de dentro."
ô jorge, pára, cara!
mas eu tava terminando! ele é grande, mas eu decorei tudo. e quando eu falo as pessoas param de brigar e choram! primeiro elas riem, depois você vê toda a lágrima saindo dos olhos frios e vazios delas.
cê fala essas coisas pra polícia e ela não te bate mais, não?
não! eles ficam sensíveis! imagina, um revolucionário que não pega em armas e sabe de cor uma poesia de Fernando Pessoa!
cara, eu acho que tu precisa é parar com essa birita.
eu não bebo há três dias.
e esse cheiro de cachaça, jorge?
é que fez três dias e eu não aguentei. tomei umas. mas isso não faz de mim um mentiroso, cara! isso tudo é um monte de merda fedida e molinha. o pessoal lá de gaza não ganha muita coisa com esse presidente, não. aliás, nem tu. a não ser esperança de merda, de comprar mais merda.
jorge, mas tu tá um pessimista idiota, hein? que que tu sabe de gaza?
tô pessimista, não. eu creio em coisas boas, cara! essa é a diferença. eu penso em coisas boas. não fico lamentando: oh! meu querido governo cobra de mim e não me dá nada. não brinco com essa merda. minha merda é outra, cara. existe uma multiplicidade de merdas a serem formuladas. um sem-número de singularidades múltiplas. eu faço minha própria merda, cara.
ainda bem, né jorge?
é sério! eu corro atrás, e tudo mais.
mas tu chegou onde está como?
não venha me dizer que eu devo minha vida ao governo, cara! minha vida eu devo aos meus. aos que a fizeram ao meu lado. àqueles que estiveram juntos na minha caminhada, e não à essa merda toda.
de alguma forma você está aí por conta dessa merda toda, jorge.
eu sei.
então não sacaneia, jorge.
mas essa merda toda não precisa ser a merda que eu vou carregar até o fim da vida. então eu faço minha própria merda, cara! meu próprio caminho.
tu é um individualista doidão, jorge!
não! é aí que tu se engana, cara! eu sou eu, claro! mas eu também! sacou? também! sou muito mais. e minha merda é feita disso tudo!
tu tá meio esquisito hoje, jorge.
é que vi um filme estranho.
é mesmo? tu vendo filmes?
não encha o saco, cara. filmes também são essa merda toda, só que mais cheirosos. aliás, a coisa mais legal que tem por aí é a música, mas ela tá cheirando como você, cara!
eu vou dizer o que eu penso, jorge: nisso você tem um pouco de razão.
então, vê se pára de ficar sentado aí, seu merdinha. eu já estou por aí:
"e o universo me fez de novo sem ideal, sem esperança, e o dono da tabacaria olhô pra mim e sorriu."...
mas não pedi sua opinião, jorge.
direi mesmo assim. eu acho isso tudo uma bela merda. uma bela montanha de merda mole.
droga, meu cigarro apagou e eu tenho que ficar te ouvindo dizer besteiras, jorge!
é sério, cara! toda essa baboseira de esperança de um mundo melhor com um presidente negro. o porra do cara é presidente, cê entendeu? presidente. que porra vai mudar, cara?
jorge, as coisas não são assim, as pessoas precisam dessa merda toda. senão, como elas vão sair à noite para pagar pra caras e mulheres lhes darem aquela chupada, que seus maridos e esposas não podem dar?
você é um estúpido, cara! ninguém precisa de presidente nenhum. nem de chupada gostosa. essa merda toda é uma bela sacanagem sustentada por seu alcoolismo.
eu não coloco sua mãe no meio, então respeite minha relação com o álcool, jorge.
ok, tu fica aí enchendo a cabeça de cachaça, enquanto teus filhos comem carangueiros podres que se alimentam da merda produzida na cidade. enquanto eu fico aqui, provando para o mundo que eu não preciso de presidente de porra nenhuma.
jorge, tu tá berrando no meu ouvido! eu tô do teu lado, sacana!
isso! fica fazendo posinha de delicado, seu merda!
caralho, jorge, a rua inteira tá querendo te dar um sopapo!
eu pego é todo mundo no bondage, cara! faço uns enemas e tá limpo!
não comece com suas coisas de tortura!
tortura? porra, os cara te fazem pagar um imposto sobre a tua casa, uma invenção mais idiota e antiga, e tu vem falar que gozar com um pouco de sangue é tortura? tu trabalha como a velha a fiar, sem parar para pensar no que fazes de ti, e dar umazinha que é tortura?
não irrita, jorge, eu tô sem saco, hoje!
porra! tu tá nessa de virar eunuco e nem me chama pra festa?! sacanagem, cara!
jorge, eu te soco hoje!
tu tem que parar de ser um cagalhão. tu fica aí sentado, sem fazer nada, enchendo a cara.
ah, vá se fuder!
é sério, cara! eu mesmo tô aí, tô aqui, tô até na internet! eu faço é muita coisa, cara! fico limpando cadeira com o cu, não.! vou pra luta é armado de palavras.
como que é isso?
bom, os caras começam a me bater e eu fico lá recitando Fernando Pessoa. os cara param de me bater para ouvir os poemas do cara. pô Fernando Pessoa é o cara!
e tu lá sabe um poema de Fernando Pessoa?
saber eu não sei não, mas decorei um, quer ver? : "eu sô é nada, nunca vô sê é nada, não posso querer sê é nada. da parte disso, tenho todo sonho do mundo. Hoje eu tô abobado, como que pensei e achei e esqueci. hoje eu tô é dividido entre a lealdade que devo à tabacaria da esquina, como coisa que é real de fora, e ao sentimendo de que tudo é sonho, como coisa que é real de dentro."
ô jorge, pára, cara!
mas eu tava terminando! ele é grande, mas eu decorei tudo. e quando eu falo as pessoas param de brigar e choram! primeiro elas riem, depois você vê toda a lágrima saindo dos olhos frios e vazios delas.
cê fala essas coisas pra polícia e ela não te bate mais, não?
não! eles ficam sensíveis! imagina, um revolucionário que não pega em armas e sabe de cor uma poesia de Fernando Pessoa!
cara, eu acho que tu precisa é parar com essa birita.
eu não bebo há três dias.
e esse cheiro de cachaça, jorge?
é que fez três dias e eu não aguentei. tomei umas. mas isso não faz de mim um mentiroso, cara! isso tudo é um monte de merda fedida e molinha. o pessoal lá de gaza não ganha muita coisa com esse presidente, não. aliás, nem tu. a não ser esperança de merda, de comprar mais merda.
jorge, mas tu tá um pessimista idiota, hein? que que tu sabe de gaza?
tô pessimista, não. eu creio em coisas boas, cara! essa é a diferença. eu penso em coisas boas. não fico lamentando: oh! meu querido governo cobra de mim e não me dá nada. não brinco com essa merda. minha merda é outra, cara. existe uma multiplicidade de merdas a serem formuladas. um sem-número de singularidades múltiplas. eu faço minha própria merda, cara.
ainda bem, né jorge?
é sério! eu corro atrás, e tudo mais.
mas tu chegou onde está como?
não venha me dizer que eu devo minha vida ao governo, cara! minha vida eu devo aos meus. aos que a fizeram ao meu lado. àqueles que estiveram juntos na minha caminhada, e não à essa merda toda.
de alguma forma você está aí por conta dessa merda toda, jorge.
eu sei.
então não sacaneia, jorge.
mas essa merda toda não precisa ser a merda que eu vou carregar até o fim da vida. então eu faço minha própria merda, cara! meu próprio caminho.
tu é um individualista doidão, jorge!
não! é aí que tu se engana, cara! eu sou eu, claro! mas eu também! sacou? também! sou muito mais. e minha merda é feita disso tudo!
tu tá meio esquisito hoje, jorge.
é que vi um filme estranho.
é mesmo? tu vendo filmes?
não encha o saco, cara. filmes também são essa merda toda, só que mais cheirosos. aliás, a coisa mais legal que tem por aí é a música, mas ela tá cheirando como você, cara!
eu vou dizer o que eu penso, jorge: nisso você tem um pouco de razão.
então, vê se pára de ficar sentado aí, seu merdinha. eu já estou por aí:
"e o universo me fez de novo sem ideal, sem esperança, e o dono da tabacaria olhô pra mim e sorriu."...